Postagens

Perdido em Israel - Trecho 75

O horror dos afogados As notícias voltam a piorar, como se isso não fosse esperado. Nenhum sinal de rendição do grupo terrorista e nenhuma notícia de alívio por parte do governo de Israel. Hoje, o termo “apocalipse” voltou a ser usado em reportagem da CNN americana. Ainda que sem sinais de força, o braço armado do Hamás - a Al Aqsa – lançou oito mísseis sobre Tel-Aviv, todos eles interceptados pelo escudo invisível que destrói foguetes no ar, nunca sem antes fazer suas sirenes berrarem a plenos pulmões. Daqui, é fácil adivinhar que a vida segue anormal em cidades de Israel, ordens militares substituem o senso comum e a ansiedade (pode também chamá-la de medo), impede que as velhas rotinas, anteriores ao atentado de outubro, voltem ao normal. Amigos evitam amigos, pais evitam filhos, festas só para os que querem aproveitar muito antes do fim – tudo em nome da segurança. As pessoas trabalham de casa, mas, até nisso, a necessidade de esforço declinou, é tempo de guerra – o que prenuncia, ...

perdido em Israel - Trecho 74

Imagem
Reis e peões numa mesma caixa Ninguém perde por esperar. Gradualmente, o conflito de Gaza volta a ocupar o noticiário internacional. Ainda é frio e sem alma. Menciona locais que desconhecemos, estradas das quais nunca ouvimos falar e, claro, aqueles números impossíveis de se checar. Cada dia em que me sento ao computador, sinto-me um intruso, mas venho dando um jeito de narrar e comentar um conflito do qual não faço parte, num país em que estive há mais de meio século e que dista mais de 10600 quilômetros do meu teclado – numa improvável linha reta. Guerras assim são como todas deveriam ser: dois oponentes sentados diante de um tabuleiro de xadrez, cada qual movendo peças em busca de um xeque-mate. Sem povos, exércitos e milícias envolvidos. A presença humana gera erros incorrigíveis, porque soldados e os outros carregam as fraquezas de sempre: o medo, o açodamento e, mais que tudo, a impulsividade. Não tenho a menor ideia de quantos combatentes vêm matando inocentes ou morrendo inocen...

Perdido em Israel - Trecho 73

Imagem
  Conta de padeiro Começa dezembro, o calor já não é intolerável, a meteorologia refresca levemente os povos em conflito. Números imaginários voejam por toda a região. Segundo levantamentos, as forças de defesa de Israel já liquidaram 15 mil (alguns dizem 16 mil) palestinos. É impossível saber quantos deles do Hamás e quantos inocentes palestinos. É uma quantidade monstruosa de vítimas, mas os aritméticos de plantão podem testemunhar que, num único dia de cerco russo à cidade ucraniana de Mariupol no ano passado, trinta e cinco mil cidadãos perderam a vida. Se existem, de fato, 2 milhões de habitantes em Gaza ou 2.5 milhões como se tem falado, é conta de padeiro que os “homicidas incontroláveis” atingiram, até agora, 0,6% da população de Gaza; 99.4% dos moradores não foram atingidos. Muitíssimo e quase nada, ainda que cada vida seja uma história e cada história uma esperança. Em Auschwitz, que é mesmo sinônimo de genocídio, cada fornada produzia essa quantidade de mortos indefesos ...

Perdido em Israel - Trecho 72

O Jerusalem Post informa que dezenas de mísseis do Hamás voltaram a voar sobre Tel Aviv e, como prova, publica fotos de uma fumaceira qualquer, que pode ter ocorrido hoje ou há cinquenta dias. As sirenes voltaram a tocar e, aparentemente, os circunstantes voltaram a interromper o falafel e o café que andaram consumindo nos dias em que consideraram que os inimigos já não dispunham de qualquer poder. De novo, o silêncio cai como neblina densa na área em conflito, é tempo de aguardar antes de noticiar. No entanto, analisar já é possível: o comentarista da Al Jazeera, maior conglomerado de comunicações do mundo árabe, Zoran Kusovac, dá o novo tom: “Estender a invasão por terra rumo à parte sul de Gaza, vai significar uma perigosa escalada na guerra. No mínimo 1,8 milhão de palestinos foram deslocados pelos bombardeios israelenses rumo ao sul. Isso significa que essa área está tão superlotada que um ataque de Israel pode forçar os palestinos a romperem as fronteiras em direção ao Egito. Des...

Perdido em Israel - Trecho 71

Recomeço A guerra está de volta, conforme o esperado. O assunto volta a ocupar espaço de destaque no noticiário. Foram sete dias de pausa, com 100 reféns israelenses liberados e 240 palestinos soltos. É o que registram os números, provavelmente distorcidos, mas, felizmente, alguns se safaram. Cada caso é diferente, mas me impressionou muito o caso da menina, que cumpriu seu nono aniversário no cativeiro e voltou para Israel sem voz ou articulação, quase afásica. Ela rejeita o carinho dos pais e passa os dias choramingando embaixo do cobertor. O tempo e as terapias podem fazer, aos poucos, com que ela volte a ser uma moça normal. Minha mãe, que foi capturada pelos nazistas aos oito, sempre escondeu, com um silêncio dolorido, tudo pelo que passou até 1945. Mas, sim, foi uma pessoa normal, carinhosa, dedicada, ainda que até o fim da vida desconfiada e pouco receptiva com desconhecidos. Não me contaram se foi consequência de uma corneta ou da queda da bandeira branca. Mas ambas as partes s...

Perdido em Israel - Trecho 70

Da medalhinha pra cima! Pasmaceira geral. Acusações de fraudes à trégua de lado a lado. Mas há reféns libertados e, só por isso, o resto vale a pena. O que vejo é um jogo de futebol tenso em que os jogadores foram à violência, torcedores invadiram o campo e o árbitro foi obrigado a suspender a partida. No corredor do estádio, ecoam promessas de morte, ataques pessoais e palavrões cabeludos. O intervalo é uma pausa para mudar o tom do espetáculo. Jogadores se juram ao voltar ao gramado. A torcida urra e, havendo duas no estádio, fica ainda pior. Todos com os nervos à flor da pele, dedicam-se mais, correm mais riscos e defendem com mais afinco as suas cores. “Pode bater da medalhinha pra cima!”, exagera o treinador, orientando seus jogares para a batalha que está recomeçando. “Medalhinha pra cima”, no jargão do esporte, significa, bater no adversário acima da linha do pescoço. Em Gaza, sinto imaginar que o clima é esse. Com o fim do cessar-fogo a qualquer momento, uns vão para cima dos o...

Perdido em Israel - Trecho 69

Não me arrependo do tal poema, poesias são mesmo sobre homens, amores e angústias. As guerras são uma preferência dos povos, levam-nos à essência das coisas. Amantes que nunca tiveram coragem de amar levam adiante suas intenções românticas ou carnais, porque a perspectiva do fim torna tudo urgente. Pessoas que nunca tiveram qualquer afeto entre si, unem-se como irmãos em busca de seus propósitos, sejam eles quais forem. Um dia, a guerra termina e, aí sim, a aritmética conta quantos contra quantos – a equação inútil segue desprezando dor, medo, coragem, loucura, erros e acertos. Mas os números vão para os compêndios e serão repetidas às crianças, novos guerreiros em gestação. Muda a área e o foco, mas em algum lugar qualquer, grupos que têm ideias e crenças diferentes, voltam a matar uns aos outros. Hoje, 27/11, completam-se cinquenta dias da guerra que está eletrizando o mundo. Há notícias de que trégua se estenderá por mais dois dias e a esperança de que a guerra termine. Paz se alcan...

Perdido em Israel - Trecho 68

Imagem
É imperioso contar: poucos anos depois de minha única visita à Israel, numa época em que produzia poemas aos borbotões (alguns que guardei e outros que resolvi dispensar de meu currículo), escrevi três páginas rimadas sob o tema “Sim, é preciso que a guerra continue”. Nunca mais o vi, mas fiquei surpreso com minha tese incomum de aspecto beligerante – de tal forma que eu nunca o esqueci. Eu não defendia as guerras como fatores de seleção natural ou de expressão cruel para a realidade de que os brutos sempre vencem. Eu apenas achava (e talvez ainda pense o mesmo) que os conflitos extraem o pior e o melhor dos homens – e mulheres e crianças. Convocam a essência do que sentem e pensam. Deixam-nos permanentemente alertas e distantes das futilidades de sua existência. O mais pacato dos cidadãos torna-se perigoso e conceitos como amor, empatia, medo e ódio afloram de uma maneira primitiva, como o dos mais longínquos de nossos antepassados. Veja no que resultam: em arcos de triunfo como o de ...

Perdido em Israel - Trecho 67

As tréguas - vejo no noticiário de hoje (25/11) – são períodos cheios de conflitos. Há acusações de ambos os lados, denúncias de que as regras não vêm sendo cumpridas, ameaças e rugidos. O Hamás informa que Israel não tem oferecido a ajuda humanitária a que se propôs e decidiu suspender, pelo tempo necessário (para quem?) a troca de prisioneiros. Com sua tradicional truculência, os israelenses ameaçam recomeçar os ataques, enquanto outros países esperam a ampliação da paz artificial por semanas, meses ou anos. Tudo isso é parte de uma rotina fastidiosa. A minha batalha é a da informação. Dos comentários facciosos, ou da irresponsável tentação de que os povos envolvidos sejam exterminados, tanto faz qual deles. As redes sociais criaram o termo “seguidores não importa do quê: dos cantores que gostam, dos bonitões e bonitonas do momento, dos que sugerem dietas ou apresentam novas teorias sobre o poder medicinal dos cogumelos da Amazônia. A internet abriu caminho para novos profetas e muit...

Perdido em Israel - Trecho 66

O Brasil entra na guerra. O Brasil está, agora oficialmente, entre as nações que apoiam a causa do Hamás. O presidente Lula ingressou – e no momento mais inadequado possível – no rol de países antissemitas. O que, por um lado, renega sua política de equidistância e mediação, faz do Itamaraty uma instituição pífia (como o próprio governo de Israel) e sugere, apenas sugere, que não hesitaria em enviar tropas contra a “entidade sionista”, que, contraditoriamente, foi criada pelo martelo do diplomata brasileiro Osvaldo Aranha.  Pior que isso, escancara as portas para movimentos de ódio contra judeus brasileiro, inaugurando uma caça às bruxas que não se sabe onde vai dar. Lula age, agora, de forma similar ao seu arqui-inimigo Bolsonaro: irresponsável, perigoso e com base nas mais agressivas redes sociais.  Conheço Lula há muitos anos, estive no famoso estádio da Vila Euclides, espantei-me com seu carisma e achei, portanto, que nascia, enfim, um líder com potencial de governar o paí...

Perdido em Israel - Trecho 65

Imagem
Ainda o Catar, com seu emir na foto. Há, por outro lado, a certeza de que os principais líderes do Hamas vivem, em fartura e conforto, em Doha, no Catar – fato que, em geral, desencaminha qualquer neutralidade. Segundo reportagem recente da revista Veja, três cidadãos de Gaza – os três mais ricos do país, são habilidosos gestores (em benefício próprio) das bilionárias doações que a causa Palestina recebe todos os anos. Ismail Haniyeh e Khaled Mashal têm 4 bilhões de dólares cada um, enquanto Moussa Abu Marzuk aparece com 3 bilhões de dólares em listas diversas de afortunados. Nem precisavam comandar o Hamás para ter enorme influência, até mesmo no Catar. Se essas informações não viessem no meio de um conflito em que a verdade morreu ao primeiro tiro, eu me inclinaria a dizer que a mediação em vigor é mais do que suspeita. E você? Pois eis que espoca, na tela do computador outro desses balõezinhos que hoje norteiam nossas vidas, e acentua o vai-e-vem destrutivo do conflito. “Filho de lí...

Perdido em Israel - Trecho 64

Imagem
  Coisas sobre o Catar Devem voltar para Israel, amanhã (24/11), os primeiros reféns da emboscada de outubro. Os palestinos também receberão os seus. Trégua confirmada - e não preciso dizer o que já disse sobre elas. Como observador, parece-me estranho e mal explicado o fato de que o Qatar seja o mediador dessa pausa. Todo mundo, hoje, conhece o emirado absolutista que sediou a última Copa do Mundo de Futebol, seus estádios bilionários, sua pista para corridas de Fórmula 1 e os prédios de design moderno que compõem sua paisagem. O Catar é um território masculino que, graças, outra vez, ao petróleo, tem a 6ª maior renda per capita do mundo. Cada catari recebe o equivalente a quase 140 mil dólares por ano, o equivalente, no câmbio que não para de flutuar, R$ 700 mil reais por ano ou pouco menos R$ 60 mil reais por mês. É claro que as contas por média dizem pouco. O provável é que boa parte da população tenha estipêndios pequenos – o suficiente, contudo para que os cataris comprem ao ...

Perdido em Israel - Trecho 63

A chamada trégua de Pelé finalmente foi formalizada. Quatro dias de suposta paz (e evidente reorganização de forças), em que 50 reféns israelenses capturados na mão grande naquele dia aterrorificante (crianças, mulheres e outros inocentes) serão trocados por 150 prisioneiros palestinos também, é claro, inofensivos.  Três por um. Ok: guerra não é mesmo artimética. Ainda restarão cerca de 200 sequestrados israelenses vivendo nos túneis do Hamás, o que é um capital humano relevante e dá a entender que a guerra se arrastará.  Mais uma opinião precipitada de minha parte: o país onde colhi laranjas e transportei galináceos pode sentir segurança, porque segurança nada mais é do que um estado de espírito. Há gente que vive em fortalezas cercadas por guardas armados e não se livra do medo. Outros tomam pequenas providências (um cachorro, um alarme ou uma tranca na porta) e permanecem em paz, destemidos. Mas não há segurança alguma enquanto inimigos forem assassinados num enclave hostil...

Perdido em Israel - Trecho 62

Pior que isso: a tentativa de transformar guerra em aritmética exclui paixão, ódio, indignação, medo e esperança - os verdadeiros numerais desse tipo de crise. A raiz quadrada de ódio, dentro de uma equação que inclui crianças mortas e reféns é uma bobagem insolúvel. Por falar em reféns, o jornal Haaretz, de Israel, numa reportagem com o subtítulo Hoping for good news soon (Esperando por boas novas em breve), informa que estão adiantadas as negociações para liberar, ao menos, cinquenta judeus sequestrados em 7 de outubro. Não se informa quais seriam as contrapartidas, nem os mediadores. Uma pausa humanitária? Um jogo de futebol entre as seleções nacionais de Palestina e Israel, com renda doada para o Hamás? Uma ampla distribuição de caramelos doados por Israel às crianças palestinas? Qualquer que seja sua hipótese non-sense, jamais estará na mesa a possibilidade do Hamás render-se às “forças desproporcionais”, ou de Israel abandonar sua caça frenética à milícia que o repudia até a mort...

Perdido em Israel – Trecho 61

A escaramuça de hoje, segundo a agência palestina de notícias Wafa, teria sido um ataque israelense ao hospital indonésio em Beit Lahia, que deixou doze mortos. Outras notícias, tão repetidas que provocam bocejos, informam que os subterrâneos da instituição de saúde estão infestados de combatentes do Hamás. Nada que consiga confirmar de forma independente, se é que ainda existe qualquer tipo de independência na escassa cobertura da tal guerra. E a trégua, então? Não se animem, porque ninguém é de ferro. Pode ser oficial, oficiosa ou sequer existir. Mas se o inimigo der moleza, bala nele. Infelizmente Pelé morreu no ano passado e, há décadas, estava velho demais para exibir sua inigualável qualidade. Fosse nos anos sessenta, ele talvez repetisse a proeza, embora não existam gramados de boa qualidade na Faixa de Gaza e, como ele mesmo testemunhou, sua trégua particular não serviu, em nada, para a promoção da paz. Guerra não é aritmética O silêncio persiste no 46º dia do confl...

Perdido em Israel - Trecho 60

Existe trégua real? O rei Pelé, tido como o maior jogador de futebol do mundo, provou que, sim, existe trégua aceita até para ver um jogo de futebol – o que revela a banalidade dos conflitos.  Era uma partida marcada entre a seleção oeste-nigeriana e o Santos, na cidade de Benin. A luz do hotel onde a apavorada agremiação santista ficaria hospedada, foi cortada de propósito para que a hospedaria não fosse alvo fácil de bombas. Na ânsia de ver o esportista mais famoso do mundo, os inimigos (que se matavam como moscas), sentaram-se lado a lado no pequeno estádio local. Assim que o jogo terminou e o time brasileiro ultrapassou as fronteiras do conflito, a trégua cessou. Os ataques recomeçaram e a história registra que um milhão e duzentos mil pessoas morreram, alguns antes, outros depois de ver Pelé em campo. No noticiário de hoje anuncia-se que há uma trégua na guerra entre Israel e o Hamás. Ninguém confirma se isso de fato está ocorrendo, embora, aparentemente haja menos vítimas n...

Perdido em Israel - Trecho 59

18 de Novembro . Trata-se um sábado esturricante em São Paulo e mais onze estados brasileiros que nunca sentiram temperaturas tão altas.  Ressurge o vento após quase quinze dias sem qualquer brisa e as mídias parecem mais preocupados com os possíveis efeitos catastróficos da chuva que os meteorologistas (hoje apenas pitonisas, já que os modelos de atmosféricos caducaram de um ano para o outro, com o aquecimento global), anunciam que terá a força de um furacão. O noticiário da guerra em Gaza é ralo, o que poderia ser um bom sinal.  - Acabou a matança? – perguntam-se os palestinos. - Acabou o Hamás? – esperam os israelenses. Não, nada disso: ventos poderosos se aproximam de um pedaço de terra dez mil quilômetros distante, aqui no Brasil. Tem, também, uma eleição na vizinha Argentina, que ameaça explodir o continente, mesmo sem ataque a civis de quaisquer nacionalidades. Acaba de espocar uma notícia, truncada e pouco confiável de que o exército israelense matou, há pouco, entre 2...

Perdido em Israel - Trecho 58

E de onde vieram as marcas nazistas no carro, de cor bege metálica, estacionado na tal garagem. A maioria silenciosa dos condôminos concluiu que foi apenas uma travessura de moleques. Que tipo de moleques? De idade suficiente para grafar suásticas e Heils Hitler, ao invés do escudo dos times para que torcem? Ouso dizer que são apenas girinos racistas produzidos por sapos antissemitas e que, portanto, aprendem a intolerância no mesmo condomínio em que vivem ao redor de minha filha, de meu genro e meus netos, provavelmente nadando nas águas da mesma piscina e, pior hipótese, até fazendo brindes de vinho branco com ela. Ainda assim, o instinto de preservação que afeta mães judias, fala mais alto. Nathalia, a única mulher de minha família que já esteve em Israel e segundo suas palavras “Adorou!”, ameaçou, divertida, mas implacável, a seu querido irmão, que quebraria seus joelhos se ele levasse adiante a recente intenção de mudar-se para Israel.  Os agressores estão na casa dela, mas ai...

Perdido em Israel - Trecho 57

As mulheres da família. Não sei no seu, mas no pequeno grupo de mulheres que me rodeiam, a preservação vem acima de todo o resto  Minha filha mais velha, minha querida Nathalia, mãe de Tito e Helena, diz-se capaz de enfrentar qualquer novo antissemita (os velhos também) no braço, usando mesmo de violência física da qual, pequena em tamanho, não dispõe – apesar de seu treinamento assíduo e disciplinado na academia do condomínio onde mora. Dias atrás, viu-se tão próxima dos exterminadores de seu povo, que nem soube o quanto gritar e espernear nas redes sociais de que participa. Ocorre que um dos muitos carros estacionados nas garagens daqueles prédios de classe alta, amanheceu marcado por cruzes suásticas e saudações a Hitler.  Nathalia reagiu imediatamente. Avisou o síndico sobre a atitude racista, fotografou a agressão, igual às que vêm sujando paredes na Europa e em outras partes da América. Exigiu, é claro, imagens das diversas câmeras de segurança, de modo a identificar os ...

Perdido em Israel - Trecho 56

As faixas de Gaza encravadas no Brasil Faixas de Gaza, com outros e variados nomes, existem em inúmeros países. Nós mesmo temos diversas apenas na cidade do Rio de Janeiro. São territórios que não pertencem ao estado brasileiro, têm leis, líderes e comandos próprios, além de moradores honestos que vivem sob o domínio do medo das milícias que os comandam. Traçando um paralelo com a situação de Israel: no país ao qual pertencem, as gazas cariocas provocam, dia após dia, ataques nos territórios que não dominam, matam a céu aberto e retornam a seus covis.  Como na ordem das coisas, as nossas faixas de Gaza só têm importância local (embora escravizem o país todo), é impensável supor que, nos chamados ataques esporádicos da polícia e do exército, quando morrem muitos inocentes e alguns milicianos, a ONU pontificasse sobre a política que o Brasil adotasse, cruel e necessária para desfazer esses lindos enclaves, quase sempre com bela vista do mar e da deslumbrante Serra da Carioca.  O...