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Perdido em Israel - Trecho 98

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Os sonhos de cada um. Não há Natal entre judeus e palestinos, pelo menos em Gaza. Pessoas seguem morrendo, tiros de lá e de cá, no território onde oficialmente nasceu um certo Jesus de Nazaré, pobre judeu tão venerado por meio mundo - e inocente causador de tantos males dos milênios subsequentes. Mas, de fato, nem sei se ele existiu – e peço perdão pela possível blasfêmia. Onde podem, judeus e muçulmanos de origem, participam das festas das famílias a que aderiram, sem qualquer resquício de rancor religioso. Esse deveria ser o caminho de todos. Ocorreu-me publicar, abaixo, a tradução dos hinos das nações em contenda, de modo a dar mais lustro a esse relato. O de Israel chama-se Hatikva, que significa, literalmente, esperança e foi criado por Shmuel Cohen. Esperança Enquanto dentro do coração Uma alma judaica ainda pulsa E para as extremidades do oriente Um olhar a Sião se dirige Ainda não se perdeu nossa esperança A esperança de dois mil anos De ser um povo livre em nossa terra A terra...

Perdido em Israel - Trecho 97

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Sinwar é, ao que se sabe, uma pessoa de caráter duvidoso, nunca um mitômano. Um homicida cruel, com ideias fanáticas. Dizem que, agora ele está entrincheirado num dos túneis de Gaza, mas sabe que sua cabeça está a prêmio.Segundo a CNN, que costuma ser muito bem informada em suas análises, ele está pensando em devolver 81 reféns para Israel para conseguir um “respiro”e procurar um novo ângulo para um possível cessar-fogo na Faixa de Gaza. Mesmo que Sinwar rejeite mais exigências de Israel para mais negociações de reféns, ele expressa, (contraditoriamente: o parêntese é meu) abertura para oferecê-los caso se garanta sua sobrevivência.” O próprio artigo adverte, entretanto, que todos possam estar caindo numa conversa fiada. “É bom lembrar que Israel vem há anos errando seus julgamentos sobre Sinwar, o que, aliás o levou a liderar e surpreender com o ataque de 7 de outubro”, conclui a CNN. O nome desse terrorista que teme a morte certamente vai reaparecer nessa correspondência. Pode mesmo,...

Perdido em Israel - Trecho 96

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Yahia Sinwar, o açougueiro medroso. Não falei dele até agora, porque trata-se uma figura controvertida. Mas há muitos anos os serviços de inteligência de Israel consideram-no o pior dos líderes do Hamás ainda em Gaza. O porta-voz militar israelense chamou Sinwar de “a face do mal” e anunciou que ele é um “homem morto andando”. Também foi honrosamente apelidado de “o açougueiro de Khan Younis”. Não resta dúvida que esse senhor, de 61 anos de idade é visto, simultaneamente, como um líder implacável e respeitado do Hamás pelo seu próprio grupo também, todavia, conhecido por torturar soldados de sua milícia, deformando-os com o uso de um prato em brasas caso considere fracos ou insurretos. Seria esse o seu modo preferido de seviciar desafetos. Além de estuprá-los e matá-los. Mas a questão que se impõe nesse momento do conflito é outra. Cresce a desconfiança de que ele não quer ser um mártir e morre de medo de morrer. Se as negociações no Egito emperraram (é o que dizem as mesmas fontes de ...

Perdido em israel - Trecho 95

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Cinco minutos de whatsApp. Repito minha opinião sobre reuniões sem interlocutores. Ontem divulguei que um suposto líder político do Hamas, Ismail Hanyeh foi ao Egitos para encontrar-se com Abbas Kamel, chefe do serviço secreto egípcio para rogar por uma nova trégua no conflito que se prolonga indefinidamente. Parecia ser um fato relevante, que teve até um aceno positivo do presidente de Israel, Isaac Herzog. Até agora, quase trinta horas mais tarde não se ouviu nova informação a respeito. Nem positiva, nem negativa, nem alternativa. Inimigos que conversam cara a cara decidem rapidamente, põem suas cartas na mesa ou as retiram e, é claro, sempre têm de consultar seus superiores para acertar o acordo com um aperto de mão. Quando as exigências e concessões são discutidas com terceiros, na capital do Egito (que, aliás fica na África, um outro continente), os fatos, como mencionei, andam a passo de camelo entre o Cairo e Tel Aviv. É uma crueldade que não se explica: combatentes continuam se...

Perdido em Israel - Trecho 94

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Uma desprezível pantomima. Esperava-se uma conversação rápida e efetiva, mas na ausência de interlocutores israelenses, as propostas parecem andar em lombo de camelo entre o Cairo e Tel-Aviv. As perguntas: serão quantos por quantos? A quem se dará prioridade? Quanto tempo vai se estipular para o novo cessar-fogo? E, claro, o que acontecerá depois. Netanyahu voltou a dizer que só vai encerrar o ataque quando todos os terroristas do Hamás forem eliminados e a faixa de Gaza tiver sido dominada. Um discurso velho que certas partes da população israelense apoiam sem restrição. Um discurso perigoso, porque segue espicaçando a ira dos países vizinhos que ainda não se envolveram na questão com a força de que dispõem. E um inexplicável fim para uma guerra cujos adversários vivem no Exterior. Pergunto-me se Israel pensa em caçá-los no Catar ou vai criar um comando secreto para eliminá-los, um a um, estejam onde estiver. Porque, caso contrário, não resta nenhuma dúvida de que o Hamás vai se reorg...

Perdido em Israel - Trecho 93

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Apareceu a margarida! A vida de um correspondente de guerra é cheia de surpresas. No capítulo anterior, mencionei a ausência de um interlocutor do Hamás para conversar vis-a-vis com os líderes oponentes de Israel. Eis que, de um dia para o outro (talvez tendo lido essas linhas não publicadas em alguma dimensão que escapa de nosso conhecimento), surge, ao vivo, na capital do Egito, um sujeito de olhar até tranquilo chamado Ismail Hanyeh, disposto a negociar, com urgência, uma nova trégua em Gaza. Não é exatamente um interlocutor, porque, como por mim sonhado, não foi conversar com a contraparte israelense. Nem se sabe se, de fato, é o líder dos líderes, o poderoso chefão do Hamás, porque diversos outros aparecem, eventualmente, nos noticiários, com as mesmas possibilidades. Hanyeh, entretanto, confirma ser uma autoridade política do movimento que atacou seu vizinho em 7/10, mas vive, com luxo e segurança, no Catar, país portanto cada vez mais suspeito, porque alega neutralidade e está s...

Perdido em Israel - Trecho 92

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  A se notar: A primeira delas é que se trata de um conflito sem interlocutores. Interlocução prevê o diálogo entre duas partes interessadas. Sempre é, a meu ver, o melhor caminho para qualquer tipo de solução. As pessoas se olham nos olhos – ou evitam olhar para seus interlocutores, o que é sempre parte de uma linguagem gestual, que põe palavras e ideias nos músculos, nos vasos sanguíneos ou nos nervos periféricos dos interlocutores. A única chance de se entrever qualquer tipo de empatia entre forças rivais ocorre nesse momento. Se, mesmo que num deslize de alguma parte, os olhos se cruzarem e descobrirem um resquício de cumplicidade, novos caminhos abrem-se imediatamente. Se, ainda, surgir qualquer nova ideia, absurda ou criativa, que não tenha sido discutida e as partes vacilarem (uma piscada, um sorriso de olhos, uma centelha de dúvida), pode estar ali o caminho, ainda que seja apenas uma pequena senda que, com trabalho e mútuo sacrifício, pode tornar-se uma trilha no caminho d...

Perdido em Israel - Trecho 91

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Olhos nos olhos.  Segue a guerra, local, mas nem tanto. O Hezbolá lançou um intenso ataque aéreo em Tel Aviv, onde as sirenes voltaram a tocar, prenunciando um ataque de possíveis consequências mais graves. As tentativas de uma nova trégua em Gaza não se concretizam. A navegação pelo Canal de Suez está interrompida pelos violentos ataques de guerrilheiros hutís, parceiros do Hamas no Iêmen. Navios de cruzeiro e de carga são obrigados a navegar à moda antiga, descendo toda a costa da África e contornando o Cabo das Agulhas no sentido do Atlântico para, ao custo de muito dinheiro extra, atingir portos longínquos, onde a desventura será adicionada ao preço das mercadorias e impactará centenas de mercados. O Egito está privado, por enquanto, dos lucros que lhe traz o canal. Em resumo: há cada dia mais prejudicados pela aparentemente pequena guerra de Gaza. Há de chegar um momento em que os prejuízos acumulados farão rugir os leões perturbados. Lembro a vocês que não sou especialista em...

Perdido em Israel - Trecho 90

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Da necessidade de estudar. E exatamente por isso, têm medo de qualquer mudança. Para ser justo, não posso deixar de lembrar que nosso Lula de keffieh (lenço árabe) tomou, descaradamente a decisão de fazer do Brasil uma nação pró-palestina, levando ao Oriente Médio nossa ruptura nacional que, nas estatísticas de hoje, continuam percentualmente iguais às das eleições do ano passado. Ninguém aprende, ninguém melhora nesse planeta tão rachado quanto as placas tectônicas sobre as quais existem. De todo modo, diante do despreparo evidente (e inesperado) das ditas Forças de Defesa de Israel, eu ouso dar uma sugestão. A de que, imediatamente, Israel recolha metade das suas forças em Gaza e, sob orientação de mestres com mais sabedoria, as recicle e as ensine a miserável arte de guerrear com responsabilidade e um mínimo de dignidade. Ao longo de quase cinco mil anos de existência, o processo de ler, reler, aprender e reaprender fez parte da rotina do judaísmo de qualquer espécie ou matiz. Não é...

Perdido em Israel - Trecho 89

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Erros inaceitáveis. Acho que manifestei sensações mais profundas no texto ora desaparecido, mas creio que qualquer leitor, de qualquer lado, terá sensibilidade para compreender esse despautério. A vantagem de estar escrevendo um livro e não ter o dever de transformá-lo em noticiário, é que não tenho compromissos. No mesmo dia, próximo ao empório saqueado, uma notícia mais sangrenta ofuscou a anterior. Três reféns israelenses, sem camisas, com bandeiras brancas hasteadas e um cartaz de SOS, lograram escapar de algum cativeiro em escombros e dirigiram-se às suas tropas nacionais, certos de que, em poucos minutos encontrariam a liberdade. O israelense Yiotam Haim, sequestrado do kibutz Kfar Gaza, seu compatriota Samer Talak, abduzido no kibutz Nir Ham e Alon Shariz, também raptado em Kfar Gaza caminhavam lado a lado quando três soldados que estão em Gaza com a missão de libertar reféns, abriram fogo e, aparentemente assustados - ou perdidos como todos os demais-, assassinaram o trio cheio...

Perdido em Israel - Trecho 88

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O sumiço e a recuperação. Estou sem palavras e aborrecido nesta segunda feira. Misteriosamente, como se tivessem sido abduzidos, três capítulos que escrevi nos últimos dias, três capítulos de muita indignação e, confesso, de pouca esperança, simplesmente sumiram. Já pedi a um técnico de informática para reavê-los. Porém, de modo a aliviar a dor de quem perde palavras já escritas e sacramentadas, decidi tentar me lembrar do que aconteceu e recuperar fatos e comentários. Se, mais tarde, o tal técnico encontrar os perdidos ou abduzidos em alguma praça do estranho mundo dos bits, vou agradecer a Deus (Deus, que deus?) ou a um conhecido saci que perambula em casa, estranha figura que faz tudo sumir e, depois, devolve o produto de seu furto em algum lugar improvável. Presumo que o primeiro capítulo perdido foi dos mais desesperados que escrevi até agora. Relata, com imagens atestadas pela CNN, um dos acontecimentos mais revoltantes do conflito na faixa de Gaza. Um fato que, a meu ver, tornou...

Perdido em Israel - Trecho 87

A triste banalização. As duas notícias de hoje, sempre sem fontes confiáveis, precisei cavoucar para mencionar. Uma delas garante que Israel tem perdido mais soldados do que imaginava e a outra assegura que os mísseis daquela nação têm sido lançados aleatoriamente sobre Gaza, sem endereço certo, caiam onde caírem. A se acreditar no que dizem, as forças de Netanyahu estão, agora, perdidas como baratas tontas, o que é outra tragédia para os palestinos. Não me parece que a criatividade e a inteligências, antigas saídas do pequeno país sionista para contornar seus problemas, sequer sobreviveram como táticas das novas gerações. Foi-se o idealismo, avultou o valor do indivíduo como um só, sem considerações comunais, e os possíveis erros de hoje juntam-se ao fato – discutível, mas provável – de que o conflito de Gaza não faça mais qualquer sentido. É, portanto a guerra errada, com objetivos errados, no lugar errado. Como jornalista, na lida há 50 anos, sei como funcionam as redações no final ...

Perdido em israel - Trecho 86

Onde anda o Hamás? Hoje foi encontrado novo arsenal escondido em Gaza. Quantos outros haverá? Leio que há intensa movimentação de líderes do Hamás, que partem para destinos anônimos – O Qatar e a Turquia são citados, mas dos demais não se sabe. As conversações prosseguem. Adeptos de teorias da conspiração vêm, nesse burburinho, a preparação de um contra-ataque. Outros julgam que, de fato, essa liderança misteriosa em constante mutação esteja apenas mendigando novas armas e recursos para prolongar o desfecho da batalha. Daqui de longe, com o sol de volta, tenho apenas considerações práticas. Como é que os palestinos do Hamás vão de um lugar para o outro? Suas fronteiras estão fechadas com ferrolhos; não restou um aeroporto sequer naquele território. Pelo Mediterrâneo, intensamente patrulhado, não é possível ir muito longe. Perdoem-me, mas acho a questão pertinente e inexplicável. Será que os túneis do Hamas chegam até Ancara ou Doha? Ou, talvez, exista um outro Hamás? Terroristas, sabe-...

Perdido em Israel - Trecho 85

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A guerra e a tragédia aérea. Minhas lembranças de Israel – nada agradáveis e às vezes cômicas – desbotaram depois de meio século de entreveros intermináveis. Como velho jornalista que sou, a esperança seria dar uma cor local, entrevistar vítimas dos dois lados, baixar ao território, sempre fartos em detalhes. Mas nem isso se pode fazer, pelo menos por enquanto, até que a verdade se reestabeleça. É assim mesmo: quando um avião despenca e mata centenas de pessoas, o interesse é instantâneo. Pergunta-se como e porque, culpados são caçados,cfotos horrendas estampam as publicações. Depois, aos poucos, a lista de vítimas é publicada, há choque nas famílias, nas empresas e até na sociedade, conforme a influência dos perecidos. Vem, então, a "cor local", o sofrimento das famílias, os detalhes do tipo “o passageiro X só pretendia voltar no dia seguinte, mas decidiu levar um presente ao filho que que aniversariava. Surgem os místicos e os videntes que já teriam antecipado a tragédia há...

Perdido em Israel - Trecho 84

O poder do chá vermelho. Tenho dedicado mais tempo a criticar Netanyahu do que a mencionar os líderes palestinos do Hamás. Por um motivo evidente: não tenho a menor ideia de quem, de fato, lidera o grupo terrorista. Surgem nomes aqui e ali, tão confiáveis quanto os números que pipocam aqui e ali, no que diz respeito à Gaza. É uma estranha batalha contra sombras fugazes. Na mira, alvos desconhecidos; no caminho das balas, gente inocente. Não há um quartel general oficial, nem os raros porta-vozes costumam se repetir. A inteligência militar israelense, que não merece confiança desde o ataque de 66 dias atrás deve estar perdida como um enxadrista num tabuleiro de damas. Ainda hoje, confirmando essa tese, a liderança da defesa de Israel anunciou que não sabe quanto o conflito vai durar. Talvez semanas, quiçá meses. Tudo isso baseado no retrato do dia. Vá se saber o que pode mudar em momento subsequente. Ainda são mais de cento e trinta os israelenses raptados durante o ataque. Estão por lá...

Perdido em Israel - Trecho 83

Artigo 13 1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro das fronteiras de cada Estado. 2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio e a esse regressar. (A liberdade de ir-e-vir é um sonho possível. Basta que todas as fronteiras sejam abertas a quem quer que seja.) Artigo 14 1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozar asilo em outros países. 2. Esse direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamente motivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos e princípios das Nações Unidas. (Dois parágrafos bonitos, mas apenas parcialmente em vigência) Artigo 15 1. Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade. 2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito de mudar de nacionalidade. (Perguntem aos curdos se isso é possível) Artigo 16 1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religi...

Perdido em Israel - Trecho 82

C ontinuação da Declaração Internacional dos Direitos Humanos Artigo 6 Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido como pessoa perante a lei. (Sim, claro. Depende apenas da casta a que pertence e das ideias que professa). Artigo 7 Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual proteção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação. (Todos? Em que mundo?) Artigo 8 Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes remédio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei. (Basta aviarem a receita certa. Remédio efetivo deve ser um genérico) Artigo 9 Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado. (kkk ou rsrs no empolgante idioma das redes sociais) Artigo 10 Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública da...

Perdido em Israel - Trecho 81

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Dez de dezembro de 1948. O dia em que criada a Declaração Universal dos Direitos Humanos, um documento não jurídico, pouco observado, quase inócuo como a própria ONU, que o concebeu. Foi escrito, com a participação de juristas do mundo inteiro pelo canadense John Peters Humphrey. Setenta e cinco anos depois, o texto segue mais poético do que significativo. Vou republicá-lo, com alguns comentários, que revelam mais o que sou, do que é o próprio documento. Artigo 1 Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade. (Poesia utópica. Os seres humanos não têm os mesmos direitos. Apenas podem, poucos, ter o mesmo tipo de dignidade, dependendo de condições externas e dos lugares onde nascem. Devem – atesta o artigo – cultivar a fraternidade, mas apenas o fazem quando estão entrincheirados.) Artigo 2 1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades...

Perdido em Israel - Trecho 80

Recomeço A guerra está de volta, conforme o esperado. O assunto volta a ocupar espaço de destaque no noticiário. Foram sete dias de pausa, com 100 reféns israelenses liberados e 240 palestinos soltos. É o que registram os números, provavelmente distorcidos, mas, bem ou mal, alguns se safaram. Cada caso é diferente, mas me impressionou muito a menina, que cumpriu seu nono aniversário no cativeiro e voltou para Israel sem voz ou articulação, quase afásica. Ela rejeita o carinho dos pais e passa os dias choramingando embaixo do cobertor. O tempo e as terapias podem fazer, aos poucos, com que ela volte a ser uma moça normal. Minha mãe, que foi capturada pelos nazistas aos oito anos de idade, sempre escondeu, com um silêncio dolorido, tudo pelo que passou até 1945. Mas, sim, foi uma pessoa normal, carinhosa, dedicada, ainda que até o fim da vida desconfiada e pouco receptiva com desconhecidos. Não me contaram se foi consequência de uma corneta ou da queda da bandeira branca. Mas ambas as pa...

Perdido em Israel - Trecho 79

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Nossas guerras de todos os dias. Sempre existe uma guerra em algum lugar. A Organização das Nações Unidos anuncia que o ano de 2023 foi um dos piores no quesito de combates armados nas últimas décadas. Estou registrando, nessas páginas, o conflito entre Israel e Hamás, mas há guerras ativas, com consequências para as populações civis em Burkina Faso, na Somália, na Ucrânia, na Somália, no Sudão, no Iêmen, em Mianmar e na Nigéria – além de outras batalhas das quais sequer tomamos conhecimento. Agora mesmo, anuncia-se outro conflito, provocado pelo déspota Nicolas Maduro, presidente da Venezuela, que pretende abocanhar dois terços da Guiana, ex-colônia britânica, para ampliar seu domínio petrolífero no norte da América do Sul. A região, chama-se Essequibo. Maduro fez mais um plebiscito sem qualquer credibilidade e informou ao mundo que mais de 90% dos venezuelanos apoiam, a anexação do território. Basta a Venezuela erguer sua própria bandeira às margens do rio Essequibo e a curiosa Guian...