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Perdido em Israel - Trecho 49

O texto da autora em questão é uma avaliação radical, arrastada, pouco coordenada e seu computador pessoal deve estar manchado pelos perdigotos do ódio que destila. O mais curioso, entretanto, é que o dono do site que o abriga é (provavelmente foi) um judeu chamado Breno Altman, filho de um também jornalista e historiador, já falecido, chamado Max. Entre outras pérolas maniqueístas, o tal Breno usou a rede X (antigo Twitter) para publicar sua opinião “não alinhada”: “Excelente notícia, para a resistência palestina, a entrada do Hezbollah no combate ao Estado colonial de Israel, se confirmada e estabelecida como guerra total. Cresceriam as perdas sionistas e a pressão sobre o governo Netanyahu tenderia a ser mais forte”. Altman foi membro do Partido Comunista do Brasil e redator de jornais do PT – o Partido dos Trabalhadores, ora no poder. É aceitável, porém anacrônico, que entre a sua ideologia e a verdade (que verdade?) ele tenha optado pela primeira, que, automaticamente transforma o...

Perdido em Israel - Trecho 48

Sigamos, porém, com a interpretação do que se diz ao público. A propósito da morte, em batalha, de Matan Meir, produtor da série Fauda, o site Opera Mundi, encontra-se hoje, a seguinte reportagem: “A arrogância colonial e apropriação da história palestina são derivadas do domínio militar sobre os palestinos. Tal como os soldados, muitos diretores, roteiristas e criadores não respeitam as fronteiras . Alguns expropriam terras palestinas, outros a sua história Na série, não há dominantes ou dominados, não há ocupação, não há contexto histórico, não há demolições, nem despejos, não há colonos ou soldados violentos. Também não há prisões políticas sem julgamento e não há tribunais que condenam crianças e adolescentes por jogarem pedras em soldados fortemente armados. De acordo com o que vemos em Fauda, os palestinos são movidos por uma paixão por vingança, uma sede insaciável de sangue, como algo próprio de seu DNA árabe. Em relação aos árabes e muçulmanos, quase sempre são retratados na m...

Perdido em Israel - Trecho 47

Ainda assim, o próprio presidente Lula vai esperá-los em um aeroporto brasileiro qualquer como se ele mesmo fosse um triunfante negociador, capaz de “façanhas” como essa que está sendo narrada. O uso político-eleitoreiro de um acontecimento menor (que sequer é nota de pé de página em qualquer jornal do mundo) é tão desprezível quanto a decadência de Israel ou a exibição de crianças-escudo mortas por líderes terroristas ou em ataques israelenses, num território onde, presumivelmente, essa estratégia é utilizada sem qualquer remorso. Essa é, de fato, uma avaliação pessoal rasa, visto que a verdade e a razão (que não tem concretitude para aparecer em vídeos) são apenas assombraçõe, duas entre tantos que sobrevoam os terrores do embate torpe. Mas é impossível negar que cada nação do mundo, inclusive as que pouco ou nada tem a ver com o conflito, fazem uso político dessa guerra por interesse próprio ou de seus líderes, amplificando noções equivocadas de coerência geopolítica, humanitária ou...

Perdido em Israel - Trecho 46

Diplomacia de pirro O objetivo da diplomacia é manter um convívio sadio entre os vários grupos sociais, fazendo com que as particularidades e interesses de cada um sejam defendidos e representados. O Brasil cultivou o mito de que seus diplomatas têm uma história ilibada e qualidades acima da média. É incontestável que o Instituto Rio Branco, a academia que forma diplomatas brasileiros é tida como uma escola acima da média. Mas a guerra na Faixa de Gaza provou que não é bem assim. A mediação diplomática brasileira de agora tomou partido. É a favor da tal “solução de dois estados” (que prejudicaria mortalmente os grupos radicais que querem jogar Israel ao mar) e compartilha dos ideais contra o que chamam “de atitude desumana e desproporcional” de Israel contra o Hamás e o povo palestino inocente ao qual se amalgamou. Hoje, 12/11, finalmente os brasileiros residentes em Gaza escaparam da Faixa de Gaza, o que motivou declarações exultantes do atual comando de nossos líderes tropicais. Os p...

Perdido em Israel - Trecho 45

Não são apenas as notícias, mas os títulos malfeitos que afetam a opinião pública. Repare nessa manchete que leio em um site de enorme audiência e diz exatamente o seguinte: “Israel encontra líder do Hamas em túnel de Gaza, mas ‘valentão’ Netanyahu recua”. O artigo é de autoria de um bom articulista e tem consistência. O título, que deve ter sido criado por um editor de baixa extração, leva, porém, o leitor a concluir que: 1- Que o incompetente presidente de Israel encontrou, pessoalmente, um arqui-inimigo na faixa que está sendo atacada e o deixou escapar por pura covardia (é o que conota o adjetivo valentão. 2- Que, talvez (e com grande probabilidade) o líder da outrora chamada terra prometida, morra de medo de escuro e, talvez por isso, tenha se evadido do túnel. 3- Ainda pior: que os judeus são covardes, como sempre foram e por isso quase sumiram da face da Terra. 4- Que o líder do Hamas saiu sorridente do túnel e quiçá tenha ido matar um refém para comemorar. 5-Que valentões judeu...

Perdido em Israel - Trecho 44

Cito, outra vez, o Irã, o Afeganistão e a Rússia, cometendo uma larga injustiça com outras nações lideradas por déspotas de qualquer ideologia. Na verdade, acabo de fazer uma digressão, que considero adequada, mas meu tema é o que interessa ao mundo nesses dias: a guerra de Israel contra o Hamas e o intrigante clamor que ela provoca. Escrevo durante os acontecimentos. Hoje, 10 de novembro de 2023, ela chega ao seu trigésimo segundo dia, com sinais claros de que vai se ampliar com a participação do Hezbollah, ainda mais forte, numeroso e cruel em sua intenção de acabar com a nunca tão frágil existência do estado judaico. Relatos datados, como esse, tendem a desaparecer com a passagem do tempo. Por esse motivo, tento ilustrá-los com experiências pessoais, como as tantas já expostas na primeira parte desse texto. Não há guerras sem pessoas, muitas das quais já citei com exatos 54 anos de atraso. Tenho outros dois conhecidos, que vivem há décadas em Israel, mas são naturais do Brasil. Ao c...

Perdido em Israel - Trecho 43

Não creio que o faria de verdade, mas essa foi sua forma de manifestar a indignação de todos os que se sentiram feridos com o renascimento do nazismo, seja lá que nome novo ele tenha. Confesso que eu também estou tomado de indignação, nunca pelo conflito, mas por ser agredido genericamente, como se estivesse de arma em punho matando gente inocente para alcançar a milícia, apenas uma entre tantas, que se oculta nos porões de Gaza, nos hospitais e nas escolas, utilizando palestinos inocentes como brasões. Vivo na paz possível da casa que conquistei com meu trabalho. Ela tem um jardim florido, uma imensa jaqueira ao lado de, ao menos, cinco araucárias enormes, árvores de pau-ferro, imensas paineiras e jabuticabeiras diversas, todas elas derivadas de uma mãe centenária, que ainda produz seus frutos para consumo imediato da passarada que nos oferece amanheceres e tardes bucólicos. Tem árvores frutíferas diversas e produtivas, inclusive uma laranjeira, muito menor do que as que produziram fe...

Perdido em Israel - Trecho 42

Meu general (é assim que o chamo, carinhosamente) é, por todas as razões, inimigo dos inimigos do lugar onde foi feliz – ao contrário do que fui em 1969. Suponho que, assim como ele, o sentimento sionista voltou a aflorar em milhares de pessoas da mesma etnia, entre eles ateus ou pouco praticantes do judaísmo. Com a introdução do termo “genocidas” para designar justamente os que sobreviveram ao Holocausto ou deles descendem, um amigo, judeu por tradição, como eu, manifestou), a seguinte frase: - Israel deveria dar cabo da Faixa de Gaza com força bruta, uma bomba atômica, talvez. Nesse caso, não seriamos chamados de genocidas todos os dias, mas apenas uma vez. A frase é hedionda, mas tem uma lógica intrínseca. Os sentimentos, como se vê, estão exacerbados e sem qualquer “razão”, porque ela é a segunda vítima das guerras, como já afirmei. Meu filho, que fez seu bar-mitzvá há quase trinta anos e nunca foi à Israel, perdeu as estribeiras com diversos amigos que, irresponsavelmente, postara...

Perdido em Israel - Trecho 41

A segunda vítima Já se sabe que a primeira vítima de cada guerra é a verdade. A segunda é a razão. Quando povos se matam, não importa quais sejam e o tamanho que possuam, a razão some. Não apenas a razão como sinônimo de inteligência, mas a razão que significa integridade ética, moral e social. As nações envolvidas e hoje, também, a opinião pública mundial incitada pelas redes sociais, tomam seus lados, agem sectariamente, como torcidas organizadas que aplaudem a cizânia, matam e morrem pela cor de suas agremiações. Até mesmo os que se pretendem isentos e pontificam a partir de suas torres de sabedoria, ficam perdidos. Os fatos se sucedem, as imagens que vêm de Israel e de Gaza mudam opiniões, pioram, melhoram, açulam ou amenizam o texto dos analistas. Em busca de uma solução humanitária já perdida nesse conflito, perdem-se, sobretudo, ao atribuir responsabilidades e injuriar os povos querelantes sem qualquer freio. O generalismo (judeus são isso, palestinos são aquilo etc.) mostra que...

Perdido em Israel - Trecho 40

  A nunca negada utilização de uma única bomba atômica (Israel tem algumas delas)há de resultar em guerra de dimensões daquela que praticamente ceifou a raça semita e odiada. Nesse caso, dificilmente a terra dos judeus continuará a existir, exceto se os países novamente envergonhados das Nações Unidas instalarem os sobreviventes em lugares pouco povoados como a península de Kamchatka, um território vulcânico de pouco interesse para a Rússia ou em alguma área isolada no norte do Canadá, na província de Nanavut, cujos raros habitantes são ursos polares e famintos. Ursos jamais seriam antissemitas, mas não se importam em devorar seres humanos, sejam eles muçulmanos, judeus, cristãos ou budistas. Confesso que gosto muito destes seres peludos, democráticos predadores. Mas a questão torna-se ainda pior com o acirramento do antissemitismo em todo o mundo, acompanhado por novas lideranças xenófobas instaladas em países poderosos. Só nos Estados Unidos, país povoado por múltiplas minorias, ...

Perdido em Israel - Trecho 39

  A Síria, cuja dinastia de Al-Hassad, jamais tolerou a proximidade com os judeus e, para tanto, alimenta-se de recursos e armas de origem russa, é inimiga declarada e hostil aos israelenses, especialmente porque, em 1967, os judeus tiraram-lhe a vantagem estratégica de dominar o topo das colinas de Golã. O Egito, formidável inimigo que a primeira-ministra Golda Meir e o presidente Anwar Sadat tornaram países irmãos para benefício mútuo hoje faz negócios com Israel (antes chamado por Gamal Abdel Nasser, tirano falecido, apenas de Entidade Sionista), compartilha turistas e divide prosperidade do jeito possível. A Jordânia, que fica a leste do território onde trabalhei e deixei o sangue de minhas feridas, não é fanática ou militarmente poderosa. Há décadas, oficial e extraoficialmente, essas nações se entendem, comerciam bens e serviços e vivem em relativa paz. Também vítima do despotismo de seus vizinhos e igualmente desprovida de petróleo, a dinastia hachemita que governa o país é ...

Perdido em Israel - Trecho 38

Como jornalista, visitei Dubai e Abu Dhabi em pelo menos três ocasiões. Em cada ocasião, as cidades estavam mais louváveis do que nas viagens anteriores. Os palácios brotavam em todos os bairros, surgiram construções imponentes (entre eles o Burj Califa, maior e mais alto edifício do planeta), ilhas e arquipélagos artificiais adquiridos, lote a lote, por investidores europeus e asiáticos. Lembro-me que, em uma das reportagens que escrevi, comparei Dubai a Babilônia, ao Cairo e a outros lugares monumentais erguidos ao longo de milênios para perenizar os feitos de povos dominantes e prósperos. Alguns acham Dubai e Abu Dhabi locais exageradamente “cafonas”, por sua mescla interminável de estilos e por sua vocação para ostentar tesouros quase agressivos pelo tamanho da empáfia e pela pobreza sem limites de iemenitas, paquistaneses, barenitas e e outras nacionalidades menos privilegiadas que vivem acampados em condições mais que miseráveis no calor inclemente do deserto local. São centenas ...

Perdido em Israel - Trecho 37

  Não contei, ainda, mas no kibutz Bahan, o tal do cemitério de bolas, havia um bunker de dimensão adequada para suas poucas centenas de habitantes. Duas ou três vezes, se me lembro, sirenes nos obrigaram a correr esses refúgios, fétidos por natureza. Alarmes falsos, felizmente. Que, há mais de setenta anos tocam automaticamente no interior da alma dos próprios israelenses, sempre assustados e com um sentido aguçado de que é preciso celebrar cada momento, como celebravam as vítimas da festa rave, dezenas de milhares delas vivendo cada minuto como se fosse o último. Foi mesmo, para muitos deles. A questão, agora, é o porque temo pelo fim de Israel. Antes cercado de países de população empobrecida e parcamente armados, os ditos inimigos eram presa fácil para o então poderoso país (dito invasor por quem se limita a ler manchetes), equipado, com a poderosa ajuda financeira de judeus espalhados pelo planeta e pelo seu parceiro de primeira hora, os mui odiados norte-americanos, para quem...

Perdido em Israel - Trecho 36

As monstruosas acusações vieram a cavalo. Se ninguém, com um mínimo de consciência, aceitasse que Israel fosse retaliar após o mega ataque que sofreu sem aviso prévio, incluindo a captura de reféns que qualquer estado autônomo faria de tudo para repatriar, não haveria um único homem probo no planeta. Como dezenas de presidentes (incluindo nosso pacificador Lula), decidiram meter o bedelho indicando a solução de “dois povos e dois estados”, todos eles revelaram pouco conhecimento político e histórico – e, claro, suas frases torpes ecoaram entre seus liderados. Dois estados? O Hamas e seus grupos parceiros não toleram e nem negociam essa ideia, não admitem líderes (fuzilam-nos, aliás) que se disponham a negociar a hipótese, a meu ver fabulosa, de uma conversa produtiva que resulte em paz. Sua própria legislação, porém, prevê a extinção dos judeus de Israel. Aiatolás hebreus Em contrapartida, os terroristas de Israel (que é como defino os ultra-ortodoxos sempre prontos para colonizar área...

Perdido em Israel - Trecho 35

Incomoda, porém, o uso irresponsável da palavra genocídio. Com a mesma paixão que nutri por Israel há 54 anos (nenhuma, como se viu), hoje uma nação de líderes fracos e ideias repulsivas, isso eu não aceito. Que os homens cometem genocídios desde priscas era, todos sabemos. Foram-se povos inteiros na colonização espanhola da América do Sul e Central. As populações indígenas e estrangeiras de diversas nações (inclusive o Brasil) também acabaram dizimadas e, com processos distintos, houve genocídios na África, na Ásia e na União Soviética. Genocídio significa sistematizar a matança de humanos, e muitos povos podem chorar suas perdas até o fim dos tempos. Os sobreviventes dessa selvageria sabem, sem dúvida, o tamanho da dor e das consequências que carregam. Os judeus, por tudo o que já foi dito e confirmado pertencem a uma etnia que pode usar os termos Holocausto e Genocídio com a devida dignidade e respeito - e em maiúsculas. Acusá-los de ser praticantes daquilo que quase os eliminou da ...

Perdido em Israel - Trecho 34

Em qualquer guerra, a primeira vítima é a verdade (ora atribuída a um senador norte-americano, ora a um visconde inglês e há mesmo quem creia ter sido proferida por Ésquilo, o dramaturgo grego que criou a tragédia, mas afinal celebrizada no livro A Primeira Vítima, do repórter e escritor anglo-australiano Philip Knightley. Se em séculos anteriores, muito antes do boom de comunicação que nos assola hoje em dia (sim, assola é a palavra adequada em tempo de notícias mal-feitas, mal-editadas e frequentemente falsas), as verdades sumiam no ar ao primeiro tiro, manipuladas pelos próprios países beligerantes, hoje a mentira grassa com a velocidade de um rastilho de pólvora. Os países que lutam, seus afetos, desafetos e ineptos de ocasião. Quando o povo judeu está envolvido, então, renasce o velho germe do antissemitismo. Nazistas de todas as nacionalidades saem dos porões em que estavam ocultos para lamentar que Hitler não tenha tido tempo de concluir o extermínio programado, criando, com iss...

Perdido em Israel - Trecho 33

“Sou judeu e, portanto, estou absolvido!”, acreditavam os jovens delinquentes daquele grupelho, com a alma expiada em seus muitos dias de perdão e, principalmente, em tantos séculos de perseguição. Apenas algumas horas mais tarde, grande parte daquela súcia de mentirosos, saqueadores e vândalos iriam ajoelhar-se na pista do aeroporto de Lod, beijar o chão e cumprir a missão sagrada de voltar às suas origens étnicas. O trambiqueiro dos cartazes de Pelé, com o bolso carregado do dinheiro de incautos, era um deles, com o bolso forrado de dinheiro pouco honesto. Aprendi, aos poucos, que a criação de um país qualquer, desde que plural e democrático, não tem nada em comum com a religião que sua população adota. (ou tem quando a fé está no comando). Com apenas 21 anos de idade, Israel tinha o que todos os estados têm: ladrões, prostitutas, cafetões e outros profissionais do tipo misturados com gente melhor estabelecida, mais trabalhadora e, naquele tempo, mais idealista. O futuro mostrou que ...

Perdido em Israel - Trecho 32

Dias depois, na Grécia, alojados em um então moderno hotel central, entendi que os sucessivos atos de delinquência talvez não tivessem nada em comum com a etnia dos viajantes. Nunca têm. Éramos, de fato, um grupo de jovens assolados pela virulência da testosterona que acomete jovens na transição para a vida adulta e, a meu ver, sofríamos (os efeitos de grupo que desencadeavam o tal do “crime de manada”. As portas de vidro do hotel em Atenas, vandalizadas pela nossa “turba” que as deixou em cacos, foram outras vítimas daquela situação. Em Roma, nosso grupo de pseudo sionistas hostilizou abertamente um idoso que entrou no ônibus estacionado na frente da Catedral de São Pedro para vender objetos católicos. Mais tarde, no mesmo dia (uma sexta-feira), fomos à Grande Sinagoga de Roma localizada no rione (distrito) San’Angelo, em frente ao rio Tibre. Era shabat e talvez expiássemos parte dos pecados cometidos naquela jornada sem nexo. Ocupávamos a terceira fila da plateia quando o velho ambul...

Perdido em Israel - Trecho 31

Piorou muito essa percepção nos dias subsequentes. Nossa passagem pela Holanda foi tão criminosa (isso mesmo: facínora) que quase levou o grupo inteiro (setenta pessoas, lembram-se?) à cadeia de Amsterdã. Pela manhã, um ônibus levou a trupe completa para a pequena cidade de Volendam, um presépio de casinhas coloridas alinhadas em frente ao Marketmeer, que é um avanço do oceano nas terras baixas daquele país. Nunca estive lá outra vez, mas presumo que ainda é um pequeno balneário de verão, visitado o ano inteiro por turistas em busca de fotos pitorescas e lembranças que eram vendidas em cada uma das casinhas típicas. Pois a malta de jovens foi impiedosa. Sempre em grupos pequenos, entrou em cada uma das lojinhas (cujos proprietários viviam pacificamente no piso superior) e cometeu um assalto de proporções notáveis. Vi muitos dos companheiros de excursão carregando chocolates, pratinhos, miniaturas de moinho e tamancos típicos daquele país. Mas não percebi que o estrago era muito maior. ...

Perdido em Israel - Trecho 30

Eis que o fulano, sem qualquer tipo de remorso, autografou, na caligrafia simples de Pelé (e com as próprias mãos) cada um dos cartazes. Acho que estivemos por mais ou menos dias, em cerca de dez países europeus, recebendo a recompensa adiantada pelo trabalho que iríamos executar. Eu o vi praticando seu comércio ilegal por toda a parte. Melífluo, apresentava-se na portaria dos hotéis, lojas e restaurantes com o pôster sob o paletó ou o traje pesado que usávamos naquele inverno. Dizia à vítima ser morador da cidade onde Pelé vivia (o que, na verdade, não era nenhuma mentira) e mostrava o cartaz que “eu mesmo ganhei do Rei”. Quase sempre seu golpe funcionava. Ansiosos por uma lembrança autografada do ídolo mundial, os interlocutores perguntavam se ele a venderia, no que eram prontamente rejeitados. “De jeito nenhum! Essa é a minha joia pessoal!, -indignava-se, aumentando, portanto, a cobiça dos interessados em possuir um cartaz autografado por uma celebridade mundial. Ao fim e ao cabo, m...