Perdido em Israel - Trecho 18
Mensagens saudosas e um monte de estrume. Minha mãe, sobrevivente da guerra que resultara na partilha da Palestina, dava-me notícias triviais, conselhos que mães judias sempre oferecem e cobria-me de perguntas sobre o dia a dia em Israel. Tinha uma letra redonda e acolhedora que só os filhos compreendem e nunca deixava de me incentivar. Guardei todas elas e, em correspondência, enviei-lhe também uma espécie de diário da jornada, com os mínimos detalhes (é o que ela me pedia) factuais e emocionais. Andei vasculhando alguns baús e não encontrei nenhum dos volumosos manuscritos de minha estada. Seria ótimo reproduzir algumas delas (creio que foram mais de oitenta as que enviei e a mesma quantidade que recebi). Foi ali, de novo, que intui o jornalista e escritor que seria pelo resto da vida -, mas nunca o migrante que alguns sonharam, um refugiado sem vontade, longe do país em que nascera e onde nunca sentira (até então) o antissemitismo que assolou grande parte do mundo por séculos e sécu...