Perdido em Israel - Trecho 211


 24 de julho de 2024


Um seguidor desse relato de guerra, enviou-me a seguinte mensagem: “Adoro seus tristes textos”.
Agradeço do fundo do coração, mas confesso que, apesar do tema, nunca pensei em minhas palavras com tristeza. Tenho tentado, com pitadas de bom-humor, amenizar essa sensação. Mas o que podem várias tentativas de suavizar uma narrativa contra a crua realidade de uma guerra onde morrem, a cada dia, centenas de pessoas, dezenas de valores, a inteligência em geral, a boa-fé e a isenção?
Acho que você tem razão, meu caro WJG – cujo nome não vou expor de propósito - : meu livro é triste.
Acabo de ver o primeiro ministro de Israel discursando no Congresso americano. Para ilustrar o sofrimento e o heroismo de seu país, ele trouxe heróis mutilados e o pai de um refém morto. Pouco importa o que ele disse (apenas acho que se alongou demais), mas como é possível se regojizar com cenas desse tipo?
Eles, os tristes e mutilados, foram aplaudidos pelos presentes. Eu só me senti mais infeliz.
Como o que escrevo há meses sobre um país em que não pus os pés (nem o coração) nos últimos 55 anos – e como o faço aos pés de uma jaqueira de frutas sem polpa durante o inverno, gostaria de que minhas palavras não fossem vistas como “tristes”, mas como imparciais – do ponto de vista da lógica pura.
Tento relatar o que vem ocorrendo, com pruridos do jornalista que sempre fui. Aprendi, aos poucos, a deixar de ser manipulado por notícias e números sem qualquer confirmação,; para evitar declarações públicas que podem significar o contrário das palavras proferidas e cismei que nenhum acordo serve para nada. Talvez agora, com o Hamás sem forças – mas creio que isso está mais para um tratado de rendição do que para um acordo.
Agradeço que alguém aprecie meus textos tristes e aos que simplesmente se informam através de seu conteúdo. Ele ficará registrado (ou abandonado) como um documento sobre dramas terríveis no Oriente Médio e em outras partes – menos de 25 anos depois das festas que celebraram, com otimismo, a chegada do terceiro milênio.
Sabe, WJG: é a inversão das expectativas que torna ainda mais triste o que escrevo.

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