Perdido em Israel - Trecho 193
28 de junho de 2024
Os leitores mais atentos já entenderam, há muito tempo, que a guerra de palavras, quase todas vazias de conotação, é uma reviravolta diária. Em determinado dia, espreme-se; noutros, afaga-se. Traduzindo: nada é crível nem sustentável.
Vejam o caso de hoje: depois de anunciar ao mundo que está pronto e planejado para invadir o Líbano e – se possível – desmantelar o Hezbolá, o Ministro da Defesa de Israel, o poderosíssimo Yael Galant veio a público para desdizer tudo o que já foi dito. Sem sequer corar, Galant afirmou que “prefere uma solução diplomática a guerrear com o Hezbolá”.
Tudo isso sob uma grande barragem de tiros e bombas lançadas no norte de Israel – hoje também!
É evidente que concordo com qualquer solução que satisfaça ambas as partes. Aposto que você também. Mas a tal declaração de Galant é tão surpreendente como se ele anunciasse, com dias de antecedência, os números que vão ser sorteados em alguma loteria – e devem haver muitas delas no país.
O efeito dessa frase fez-se sentir, de imediato, nas porções mais radicais (uso o termo à direita, embora fanatismo não tenha lado) do governo e do Congresso de Israel, que exigem guerra contra o Hezbolá.
Eu diria que as palavras de Galant são o que se chama de balões de ensaio. Servem, apenas, para medir o pulso da opinião pública e, talvez, para que no futuro, alguém registre que, no meio de várias guerras sangrentas, Israel tenha dito que “prefere soluções diplomáticas”.
Balões de ensaio são armas ilusórias – pelo menos assim os definem os dicionários. Mas, não esqueça: são armas! Insidiosas, provocativas, modernas, mas com o poder de morte de todas as munições.
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