Perdido em Israel - Trecho 172
3 de junho de 2024
Tenho uma ótima relação com sirio-libaneses que vivem em São Paulo. Alguns vieram de lá há muito tempo, durante a ocupação de seus territórios pela atual Turquia. Eram de outro povo e origem, mas ficaram conhecidos como os “turcos da prestação”, assim como os judeus emigrados de diversos países do mundo ganharam epíteto semelhante: “ judeus da prestação.”
Com talento para o comércio e ainda informais, circulavam pelos bairros de São Paulo com carroças das quais vendiam imensa variedade de produtos a bom preço. Tanto uns como outros tinham origem semita, histórias complicadas de ocupação e perseguição, mas eram benquistos naquele Brasil de oportunidades. Lembro-me, com carinho, do brilhante Suleiman Safadi, que, ao completar bodas de ouro com dona Huda (e tendo lido alguns de meus poemas) pediu-me para escrever alexandrinos rimados para celebrar a ocasião. Suleiman, professor de inglês e intelectual, gostou tanto do que escrevi que decidiu publicar a poesia no cardápio do banquete que ofereceu aos amigos.
Quando me casei, anos depois, deu-me um abraço de avô e interrompeu a fila de cumprimentos para declamar “The lark and the pigeon”, de Shakespeare, vertendo lágrimas, como os noivos e os outros comensais.
Outro amigo de origem sirio-libanesa era Jorginho Abduch, com o qual criei a mais inusitada das competições. Trabalhávamos, ambos, como repórteres do Estadão. Ali eram publicados os anúncios fúnebres da sociedade paulista. Nossa aposta: se o número de óbitos de origem judaica fosse maior do que as publicações que davam adeus à sírios e libaneses, a vitória era minha; caso contrário, era ele o vencedor. A aposta valia para o anúncio de mortes – o que excluía a publicação de convites para missas.
O número de árabes em São Paulo era, ao menos, cem ou duzentas vezes maior do que o dos judeus. O surpreendente é que, ainda assim, eu quase sempre ganhava. Até o dia em em que meu rival matou a charada. Sua gente mandava publicar belos anúncios, mas sempre com atraso, para fazê-los, também, convocações às missas de 7º dia, que não valiam para o nosso ranking. O duelo foi encerrado. Com risos que duram até hoje.
Tenho uma ótima relação com sirio-libaneses que vivem em São Paulo. Alguns vieram de lá há muito tempo, durante a ocupação de seus territórios pela atual Turquia. Eram de outro povo e origem, mas ficaram conhecidos como os “turcos da prestação”, assim como os judeus emigrados de diversos países do mundo ganharam epíteto semelhante: “ judeus da prestação.”
Com talento para o comércio e ainda informais, circulavam pelos bairros de São Paulo com carroças das quais vendiam imensa variedade de produtos a bom preço. Tanto uns como outros tinham origem semita, histórias complicadas de ocupação e perseguição, mas eram benquistos naquele Brasil de oportunidades. Lembro-me, com carinho, do brilhante Suleiman Safadi, que, ao completar bodas de ouro com dona Huda (e tendo lido alguns de meus poemas) pediu-me para escrever alexandrinos rimados para celebrar a ocasião. Suleiman, professor de inglês e intelectual, gostou tanto do que escrevi que decidiu publicar a poesia no cardápio do banquete que ofereceu aos amigos.
Quando me casei, anos depois, deu-me um abraço de avô e interrompeu a fila de cumprimentos para declamar “The lark and the pigeon”, de Shakespeare, vertendo lágrimas, como os noivos e os outros comensais.
Outro amigo de origem sirio-libanesa era Jorginho Abduch, com o qual criei a mais inusitada das competições. Trabalhávamos, ambos, como repórteres do Estadão. Ali eram publicados os anúncios fúnebres da sociedade paulista. Nossa aposta: se o número de óbitos de origem judaica fosse maior do que as publicações que davam adeus à sírios e libaneses, a vitória era minha; caso contrário, era ele o vencedor. A aposta valia para o anúncio de mortes – o que excluía a publicação de convites para missas.
O número de árabes em São Paulo era, ao menos, cem ou duzentas vezes maior do que o dos judeus. O surpreendente é que, ainda assim, eu quase sempre ganhava. Até o dia em em que meu rival matou a charada. Sua gente mandava publicar belos anúncios, mas sempre com atraso, para fazê-los, também, convocações às missas de 7º dia, que não valiam para o nosso ranking. O duelo foi encerrado. Com risos que duram até hoje.
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