Perdido em Israel - Trecho 165





24 de maio de 2024

Ele nasceu em Niterói, não tem instagram, não faz parte do facebook e vivia em Israel. Hoje foi encontrado morto em Gaza e não se sabe se está sem vida há três dias ou desde o ataque terrorista de 7 de outubro. Curiosamente, virou manchete dos principais sites brasileiros, porque era o único brasileiro que restava entre os reféns (vivos e mortos) do inferno de Gaza.
Seu nome era Michel Nisenbaum e foi encontrado ao lado de outros reféns que Israel ainda considerava vivos. Todos nós, jornalistas, aprendemos que o que acontece na própria rua ou no bairro interessa mais aos leitores do que um tsunami na Indonésia. Daí, provavelmente, a promoção de Nisenbaum, o modesto, às manchetes brasileiras.
É apenas o registro de um brasileiro que se foi no conflito e não muda em nada o rumo dos combates no Oriente Médio. Mas temos a tendência natural de identificar-se com ele. Talvez torcesse para o Flamengo ou por qualquer outro time. É fácil imaginá-lo tomando uma cerveja em qualquer quiosque da orla fluminense. Deve ter sido vítima de arrastões como tantos outros e também deve ter levado um caldo nas ondas de Copacabana.
Um dos nossos, como outros 150 mil brasileiros de origem judaica, milhões de oriundi, nipônicos, ucranianos, poloneses e alemães que escolheram o Brasil para dar sentido às suas vidas.
Será esquecido em breve, nosso bom Michel. Exceto pela família que o esperava e foi até visitar o presidente Lula para pedi-lo que intercedesse por sua vida. Lula chegou a recebê-los em palácio, mas não tomou providência.
Com a mesma lógica jornalística acima exposta, talvez se o refém fosse de Caetés (sua cidade natal), o presidente tivesse se esforçado com mais esmero.
Agora, não adianta mais. Não há outros brasileiros aprisionados pelo Hamás e, dada a velocidade com que reféns têm sido encontrados mortos, é fácil perceber a crescente desesperança de seus familiares, sejam de onde for.


 

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