Perdido em Israel - Trecho 160

 



17 e 18 de maio de 2024

Desculpe-me, caro leitor: tenho até gazeteado relatos nesse presumível diário, porque só futuro há de revelar tudo o que está acontecendo na ratoeira de Rafah. Não há fontes seguras, nem estatísticas, mapas, nada. Um número sobressai e é tão suspeito como tudo que emana de Gaza e de Israel há um bom tempo. Informa-se que 800 mil refugiados em Rafah já abandonaram o local, espalhando-se, outra vez, por áreas dilaceradas de Gaza – o que, se for real, vai fazer recomeçar a caçada parede a parede, buraco a buraco de fases anteriores do conflito.
Ou seja: curiosamente parece que o dilema de Rafah vai acabar (sem o esperado morticínio), a guerra vai continuar, mas, de fato, está terminando. Mais e mais unidades da defesa de Israel ocupam o local todos os dias.
A causa dos reféns parece definitivamente perdida. Israel ainda encontra alguns deles: todos mortos, alguns dos quais já em decomposição desde o ataque inicial do Hamás. Só resta o espanto de devolver às famílias as relíquias de gente já levada morta. Entre hoje e ontem quatro reféns (que nunca o foram, afinal) voltaram para sua gente que tanta prece desperdiçou à toa.
Como é de seu conhecimento, às vezes invoco deus, quase como uma figura de linguagem, nessa ignóbil narrativa. Mas não acredito em nada do que foi dito em nome dessa entidade, a grande mentora de todas as carnificinas ao longo da História.
Mas isso é coisa minha, permito-me opinar, por blasfemo que soe. Se você pensa o contrário, a indústria de velas agradece porque seguirá prosperando.


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