Perdido em Israel - Trecho 158

 


15 de maio de 2024


Polarização é a palavra que define este primeiro quarto do século 21. Se, antes, questões políticas, ideológicas, sociais e até pessoais costumavam dividir as pessoas, mas nunca a ponto de torná-las indebatíveis, ao som longínquo – mas audível – da moderação e da conciliação. Hoje isso não acontece mais.
A responsabilidade por essa mudança cabe às redes sociais, à mídia inepta e a uma nova forma de educação ideologizada e absolutamente submissa às normas puritanas e intransigentes do que se convencionou chamar de politicamente correto.Há reuniões e cúpulas quase diárias com o objetivo de unir forças para resolver problemas iminentes, como a questão climática e as pendengas geopolíticas. Os participantes, contaminados pela polarização que se instalou, pouco ou nunca conseguem avançar no que é urgente, tão pressuroso que, em muitos casos, já foi ultrapassado pelos fatos.
Em 1973, assim que consegui meu primeiro emprego nos Diários Associados, estourou a chamada guerra do Yom Kippur, acirrada, violenta e que custou à Israel a devolução do deserto do Sinai para o Egito – região que foi tomada à força por Israel na guerra dos 6 dias, seis anos antes.
Não é o caso de recontar essa velha história. O que quero contar é que fui encarregado da cobertura local do evento, entrevistando lideranças comunitárias, religiosas e pessoas aleatórias (sobretudo comerciantes) por um longo período de tempo. Em nenhum momento encontrei sinais de polarização: não havia ódio nos olhos das pessoas com quem conversei, mas até empatia.
Não era, a meu ver, ingenuidade típica da época, mas simples ausência de polarização. Um tempo em que cachorros tinham donos ou pais, jamais tutores.
Palavras hoje usadas, como inclusão, resiliência (antes resistência), gordofobia, homofobia e assédio sexual (antes tidas como paquera ou flerte), não eram usadas porque esses temas não haviam sido polarizados. A meu ver foram esses detalhes que nos dividiram em facções radicais. Aceito se você discordar, mas vejo que hoje vivemos mais duros, intolerantes e mais mal-humorados do que antes.

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