Perdido em Israel - Trecho 133
Hora de falar em cirurgia. Um politraumatizado chega a um pronto-socorro. Há muito o que fazer com ele. Médicos de diversas especialidades reúnem-para tratar de seus órgãos, os mais vitais primeiro, os de menor risco letal depois.
Lendo o noticiário de hoje – em diversas partes do mundo, como faço todos os dias – observo que é uma delicada cirurgia tudo o que vem ocorrendo nesses dias no Oriente Médio. Sangra muito, em diversas partes, o paciente convulsiona, está entre a vida e a morte. O foco de cada um dos doutores está em partes distintas. O hepatologista vê o fígado, o neurocirurgião mexe na cabeça e observa os danos do sistema nervoso, o ortopedista só vai ser chamado no final: cortar e remendar ossos é o de menos.O doente está espalhado por todas as partes. Em Gaza, como sempre, no Líbano, onde, hoje, um ataque definido – vejam só – como cirúrgico tirou a vida de mais um comandante do Hezbolá, Ismail Yusef Baz, comandante de brigada na costa do Líbano, veterano em lutas, ataques e tudo o mais. Os órgãos mais importantes estão sendo cuidados na mesa de comando das Forças Defensivas de Israel, onde militares discutem como enfiar o bisturi no Irã, com que força e com que data. Oxigênio!, grita o pneumologista; morfina!, urge o anestesista.
O paciente vai e volta, é toda uma enorme região do planeta que está na mesa cirúrgica. Alguns médicos desertam, para eles não há mais o que fazer com o intestino delgado, o baço já se foi – se o paciente, professe a religião que preferir ou a ideologia que lhe aprouver, sobreviver - , jamais será o mesmo.
Mísseis vindos do Líbano são esfacelados – se não houvesse o Domo de Ferro, o mais eficiente dos equipamentos hospitalares, revolução tecnológica sem igual, o paciente não teria chegado com vida ao Centro Cirúrgico. Ele agoniza, mas ainda resiste. Será que há algum sentido em mantê-lo com vida num território que a despreza?
Ou recuperá-lo, mutilado como estiver, ser devolvido a um posto militar qualquer, para que a guerra (ou a cirurgia, se você preferir) não termine jamais?
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