Perdido em Israel - Trecho 119
O dia de quem escapa com vida
Fatos relativos ao dia de hoje: é o dia mundial dos Sobreviventes de Guerra. Creio que valha para qualquer pessoa que superou um conflito, mas foi criado para os raros judeus europeus remanescentes do morticínio de Hitler, industrial e planificado.Eu mesmo deveria comemorar, mas não vejo sentido nisso. Celebrar sobreviventes é, de certa forma, exaltar o genocídio. Sem Hitler, meus ancestrais teriam tido outra vida, mas não seriam o resto do restolho do rebotalho.
Netanyahu, pela ocasião, fez um discurso com o livro Mein Kampf (Milha Luta) – a Bíblia nazista escrita por Hitler. Confesso que, nas fotos, irado, ele parece com o ditador alemão, ainda que sem o bigodinho. Se o Mossad tiver acesso a esse texto, ai de mim.
Entretanto esse é um livro de análises e opiniões minhas. Os rabinos conservadores que conheci no passado iriam me recriminar pelo que disse. Henry Sobel, o primeiro rabino progressista do Brasil, o espantoso orador que fazia silenciar as moscas, acharia graça. Sobel foi (independente de seus erros pessoais) o homem que tirou os judeus da sombra da ditadura, ao combatê-los sem medo. Celebrou a missa de Vladimir Herzog numa Catedral da Sé lotada e recusou-se a aceitar que Herzog, um bom jornalista, tivesse ceifado sua própria vida, dentro das instalações do DOI-CODI, onde estava preso e vinha sendo torturado.
A vida é sagrada para os judeus e os suicidas são enterrados do lado de fora dos cemitérios judaicos. Apesar da pressão e da possibilidade de ter o mesmo destino do jornalista, Sobel presidiu a cerimônia que o enterrou bem no meio do Cemitério Israelita do Butantã, em São Paulo, redimindo-o perante Deus e a sociedade – que mais tarde, conheceria a história verdadeira depois de longas investigações.
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