Perdido em Israel - Trecho 106

 

A magia das imagens.

Não há imagem sem trucagem. Sempre existe alguém que distorça, censure ou valorize certas cenas. Na guerra de Gaza, não é diferente. Veem-se bombas, tiros no ar e fumaça por todos os lados. É impossível estabelecer se são israelenses ou palestinas.
Sequer se pode avaliar a que data se referem. Você pode estar vendo tanto um míssil lançado em outubro passado quanto uma imagem de há três ou quatro dias atrás.
Sou um sujeito fascinado com os múltiplos recursos da trucagem, nas telas grandes há um bom tempo são produzidas guerras que nem sequer aconteceram, trincheiras belgas escavadas em Wyoming ou na Argentina, decapitados que, após a gravação, usam chapéus e fumam cigarros.
Trucagem é pouco: chamam-nas de edições, efeitos especiais e, é claro que todos os anos surgirão novidades a nos iludir e encantar.
Dito isso, pergunto: vocês acreditam em imagens de guerra? Não terá o soldado com uma metralhadora sido inserido numa cena a qual não pertence. Não haverá maquiadores capazes de atenuar ou reforçar ferimentos de guerra, dependendo a quem a imagem vai servir?
E crianças correndo de costas para as câmeras serão vítimas em fuga ou meninos e meninas correndo para alguma distribuição humanitária de balas ou chocolates?
Minha mãe, que, ainda menina, foi enviada para o campo de concentração de Plaszow, nas bordas de Cracóvia e sempre foi plena de silêncios, reacendeu para o próprio passado ao ver, no cinema A Lista de Schindler, de Steven Spielberg. Ela ficou tão impressionada com a reconstituição do campo, seus declives, aclives, praças e galpões que chegou a me dizer: “era neste túmulo que eu me apoiava quando minha respiração estava fraca e eu tinha de chegar para auxiliar na casa de Amon Goeth, o chefe do campo – que me dava chicotadas todos os dias”Ela podia mesmo reconhecer o nome de algum polonês numa lápide antiga, porque Plaszow tinha sido um antigo cemitério da cidade. Outros que passaram por lá também se chocaram com a verossimilhança que Spielberg aplicou aos seus cenários.
Filme ou trucagem? Ou ambos, formidavelmente manipulados?

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