Perdido em Israel - Trecho 103




Mandela e as hienas.

Sou um fã declarado de Nelson Mandela e da própria e bela África do Sul. Todos sabem que aquele país viveu o mais longo e cruel apartheid (um regime de segregação racial iniciado em 1948 e encerrado em 1994) daquele continente.
Mandela, que foi solto depois de décadas de encarceramento, assumiu o poder, mudou a legislação e era previsível que os negros, finalmente libertos depois de anos de humilhação e violência sem limites, fossem imediatamente para a desforra. Eles eram (e ainda são) 80.7% da população nacional, limitados, como cidadãos de segunda categoria.
Com uma condução brilhante da mudança política criou um chamado plano de ações positivas que estimulava a igualdade e o reingresso da população negra na vida sul-africana e garantia aos brancos seguir vivendo no país. Estimulou a aparentemente impossível reconciliação e pacificou o país, utilizando-se de seu carisma especial para lidar com extremistas de ambos os lados.
Foi uma das mais justas escolhas para o Prêmio Nobel da Paz em todos os tempos e o mundo viu, atônito, que os dias passavam e o temido banho de sangue simplesmente não ocorreu.
Uma das grandes frases que legou para o século 21, preferida de forma espontânea (como ele sempre fazia) foi esta:

"Ninguém nasce odiando outra pessoa por causa da cor de sua pele, da sua origem ou da sua religião. Para odiar, é preciso aprender. E, se podem aprender a odiar, as pessoas também podem aprender a amar."

E por que razão incluo Madiba (seu mais famoso apelido) e o país mais meridional do continente africano nessa conversa? Porque nessa antevéspera de 2024, época de loucos e borrachos, o governo sul-africano foi à Corte Internacional de Justiça, em Haia e denunciou Israel por genocídio, aquele velho e injusto termo, menos útil e responsável quando proferido por uma nação que estimulou o genocídio através do mais cruel apartheid da História recente.
Essa denúncia é um típico sinal de que o país não precisou de muito para pisar em cima dos restos mortais de seu salvador. Sinto ter de comentar: um dos países com maior variedade de animais fabulosos, resolveu adotar a odiável hiena como seu símbolo nacional.

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