Perdido em Isarel - Trecho 101

 


A semana entre o Natal e o Ano Novo, costuma ser a mais preguiçosa do ano. As pessoas viajam (em quase todos os lugares) e, embora raramente consigam, tentam desligar-se de tudo. O presidente do Brasil está na praia, outros líderes devem estar realizando programas parecidos
Até os que acompanham esse texto diminuíram de forma notável e eu mesmo deveria aproveitar o ensejo para uma pausa. Considero, porém, que vida de correspondente de guerra não tem trégua e pequenos buracos na narrativa podem comprometer a compreensão do conflito como um todo. Além do quê, sinto-me – já há algum tempo – presença familiar nos escombros de Gaza, vasculhando destroços, vagando entre tanques, olhares assustados ou cheios de ódio.
É claro que minha presença é apenas uma fabulação, a mais honesta possível. Ora viro minhas baterias para um lado, ora para o outro e conservo a firme determinação de verificar fraudes e engodos, além de me reservar ao direito de avaliar, do alto de meus cinquenta anos como jornalista e editor, para onde vão as veredas desse conflito.
Não tenho um drone sobre Gaza e, por consequência não vejo a dimensão dos bombardeios de hoje. Aprendi que, se houver uma tragédia e ninguém a detectar, não existe notícia. É vida que segue.O que não termina, não acaba – e seja qual for o encerramento das hostilidades em marcha. Anunciei que essa é a época das redações desfalcadas e desmobilizadas, que produzem uma quantidade menor de notícias, embora os fatos sigam ocorrendo sem qualquer consciência do desenrolar das datas festivas do mundo ocidental.
O dia, por aqui, está nublado e nem as aves gorjeiam da forma habitual. No próximo domingo, quando ocorrer a passagem do ano, O dia, por aqui, está nublado e nem as aves gorjeiam da forma habitual. No próximo domingo, quando ocorrer a passagem do ano, a cidade vazia presenciará outra bateria de fogos de artifícios, daquelas que matam cachorros, aos milhares, ano após ano. Os que se incomodam com isso talvez tenham chance de perceber os ruídos cotidianos do conflito em Gaza.
É irônico pensar que os sons das celebrações são similares aos das guerras.

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