Perdido em Israel - Trecho 93




Apareceu a margarida!


A vida de um correspondente de guerra é cheia de surpresas. No capítulo anterior, mencionei a ausência de um interlocutor do Hamás para conversar vis-a-vis com os líderes oponentes de Israel.
Eis que, de um dia para o outro (talvez tendo lido essas linhas não publicadas em alguma dimensão que escapa de nosso conhecimento), surge, ao vivo, na capital do Egito, um sujeito de olhar até tranquilo chamado Ismail Hanyeh, disposto a negociar, com urgência, uma nova trégua em Gaza.
Não é exatamente um interlocutor, porque, como por mim sonhado, não foi conversar com a contraparte israelense. Nem se sabe se, de fato, é o líder dos líderes, o poderoso chefão do Hamás, porque diversos outros aparecem, eventualmente, nos noticiários, com as mesmas possibilidades.
Hanyeh, entretanto, confirma ser uma autoridade política do movimento que atacou seu vizinho em 7/10, mas vive, com luxo e segurança, no Catar, país portanto cada vez mais suspeito, porque alega neutralidade e está sempre envolvido como suposto mediador da questão, ainda que dê guarida à fina flor dos matadores do Hamás.
Vou rever, portanto, a isenção da Al Jazeera, cuja suntuosa sede fica em Doha (no Catar) e é um dos mais poderosos instrumentos de comunicação no mundo árabe, com alcance internacional. Há até a Al Jazeera em português, publicada diariamente, alcançável nos canais fechados e com ramificações poliglotas em todo o planeta.
Mas isso é o que menos importa agora. Hanyeh foi ao Egito, um país que não quer ver o grupo nem pintado em seu território, para encontrar-se com Abbas Kamel, chefe do serviço secreto egípcio a fim de rogar por uma nova trégua (dita humanitária) no conflito que se prolonga indefinidamente.
O presidente de Israel, Isaac Herzog, declarou ontem que o país está "preparado para outra pausa humanitária e ajuda adicional para facilitar a libertação de reféns" – o que parece abrir um caminho real para uma nova conciliação, que permita outra troca de reféns - o que é do maior interesse de Israel, que anda, como já se disse, extenuado e matando os próprios reféns que deve salvar por equívocos irresponsáveis e infantis.

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