Perdido em Israel - Trecho 89



Erros inaceitáveis.

Acho que manifestei sensações mais profundas no texto ora desaparecido, mas creio que qualquer leitor, de qualquer lado, terá sensibilidade para compreender esse despautério.
A vantagem de estar escrevendo um livro e não ter o dever de transformá-lo em noticiário, é que não tenho compromissos. No mesmo dia, próximo ao empório saqueado, uma notícia mais sangrenta ofuscou a anterior. Três reféns israelenses, sem camisas, com bandeiras brancas hasteadas e um cartaz de SOS, lograram escapar de algum cativeiro em escombros e dirigiram-se às suas tropas nacionais, certos de que, em poucos minutos encontrariam a liberdade.
O israelense Yiotam Haim, sequestrado do kibutz Kfar Gaza, seu compatriota Samer Talak, abduzido no kibutz Nir Ham e Alon Shariz, também raptado em Kfar Gaza caminhavam lado a lado quando três soldados que estão em Gaza com a missão de libertar reféns, abriram fogo e, aparentemente assustados - ou perdidos como todos os demais-, assassinaram o trio cheio de esperança.
Foi, é claro, destaque no mundo todo, sobretudo quando a guerra andava provocando bocejos. Mas, nesse caso, a hipótese de um acidente parece a única, ainda que injustificada. Os atiradores foram detidos e o governo de Israel, através de um discurso de seu próprio primeiro-ministro, manifestou desculpas e diz-se chocado e disposto a aprender para que isso não aconteça mais no futuro.
No dia seguinte, pequenas multidões se reuniram para exigir que Netanyahu liberte imediatamente os reféns remanescentes. Ninguém, nenhum cidadão, foi às ruas para pedir a cabeça do primeiro ministro que tem conduzido o conflito tão desastradamente.
Não conheço a legislação israelense, mas suponho que ela seja baseada em princípios judaicos antigos. Para meu gosto pessoal, o Bolsonaro de solidéu teria de ser impedido de governar, dando espaço a lideranças mais arejadas e criativas, capazes de desenrolar esse novelo com mais astúcia. Mas tudo leva a crer que o tal povo escolhido carrega seu temor milenar e um jeito conservador de lidar com os fatos. Dizem muitos judeus, no mundo todo, que “tudo o que está ruim sempre pode piorar”.

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