Perdido em Israel - Trecho 88



O sumiço e a recuperação.

Estou sem palavras e aborrecido nesta segunda feira. Misteriosamente, como se tivessem sido abduzidos, três capítulos que escrevi nos últimos dias, três capítulos de muita indignação e, confesso, de pouca esperança, simplesmente sumiram.
Já pedi a um técnico de informática para reavê-los. Porém, de modo a aliviar a dor de quem perde palavras já escritas e sacramentadas, decidi tentar me lembrar do que aconteceu e recuperar fatos e comentários. Se, mais tarde, o tal técnico encontrar os perdidos ou abduzidos em alguma praça do estranho mundo dos bits, vou agradecer a Deus (Deus, que deus?) ou a um conhecido saci que perambula em casa, estranha figura que faz tudo sumir e, depois, devolve o produto de seu furto em algum lugar improvável.
Presumo que o primeiro capítulo perdido foi dos mais desesperados que escrevi até agora. Relata, com imagens atestadas pela CNN, um dos acontecimentos mais revoltantes do conflito na faixa de Gaza. Um fato que, a meu ver, tornou as forças de defesa de Israel em um grupo sem alma ou remorso, gente brutal e moralmente doentia que evidencia o quanto mudou o país e a mentalidade do que foi, um dia, chamado de “terra prometida”.
As imagens mostram três soldados entrando num pequeno empório de Shejaia e confiscando poucos víveres de uma prateleira mal fornida. Eles pegam os itens, escassos mas essenciais para palestinos mal alimentados com raras e pouco acessíveis reservas de suprimentos. Pior que isso: na frente da câmera, levam o butim para a rua e o incendeiam. O que pode ser isso se não a mais abjeta crueldade? Teria algum objetivo tático no conflito? Faria parte de alguma ação coordenada?
Fico com a sensação de que, decorridos quase setenta dias da guerra (que, não esqueço, foi deflagrada pelo Hamás), muitos soldados estão cansados, ensandecidos, agindo como baratas tontas, assim como os mísseis sem alvo definido de que Israel também se utilizado.

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