Perdido em Israel - Trecho 85



A guerra e a tragédia aérea.

Minhas lembranças de Israel – nada agradáveis e às vezes cômicas – desbotaram depois de meio século de entreveros intermináveis. Como velho jornalista que sou, a esperança seria dar uma cor local, entrevistar vítimas dos dois lados, baixar ao território, sempre fartos em detalhes. Mas nem isso se pode fazer, pelo menos por enquanto, até que a verdade se reestabeleça.
É assim mesmo: quando um avião despenca e mata centenas de pessoas, o interesse é instantâneo. Pergunta-se como e porque, culpados são caçados,cfotos horrendas estampam as publicações.
Depois, aos poucos, a lista de vítimas é publicada, há choque nas famílias, nas empresas e até na sociedade, conforme a influência dos perecidos. Vem, então, a "cor local", o sofrimento das famílias, os detalhes do tipo “o passageiro X só pretendia voltar no dia seguinte, mas decidiu levar um presente ao filho que que aniversariava. Surgem os místicos e os videntes que já teriam antecipado a tragédia há décadas, embora nada tenham publicado sobre o assunto. Dói, ao público, a tristeza da noiva que perdeu o noivo que estava chegando de aliança e tudo - e cai o valor das ações da companhia aérea, de antemão irresponsável, negligente e seja o que mais for.
Os cemitérios ficam cheios e os aeroportos se esvaziam. Com o passar dos dias, o odor da desgraça perde a força, ninguém mais se interessa pelo currículo da tripulação, a capacidade do piloto ou o que será feito das famílias atingidas. Alguma análise técnica dos destroços (que, em geral, dura anos) talvez recomende mudanças de procedimentos, engenharia e comportamento.
Haverá lembranças, homenagens e talvez, até algum monumento para eternizar a tragédia, desses que acabam visitados por pombos, porque as pessoas comuns não gostam de lugares assustadores e as famílias atingidas já superaram seu próprio luto.
Enfim, nada mais, a não ser algum documentário cheio de mapas e ilustrações, que terá audiência, porque esse é o destino das tragédias.
Se sigo com o fastidioso relato sobre a guerra em andamento, é porque ela ainda não acabou. Não se sabe sequer se o vencedor sairá vitorioso ou os derrotado.

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