Perdido em Israel - Trecho 80


Recomeço

A guerra está de volta, conforme o esperado. O assunto volta a ocupar espaço de destaque no noticiário. Foram sete dias de pausa, com 100 reféns israelenses liberados e 240 palestinos soltos. É o que registram os números, provavelmente distorcidos, mas, bem ou mal, alguns se safaram. Cada caso é diferente, mas me impressionou muito a menina, que cumpriu seu nono aniversário no cativeiro e voltou para Israel sem voz ou articulação, quase afásica. Ela rejeita o carinho dos pais e passa os dias choramingando embaixo do cobertor.
O tempo e as terapias podem fazer, aos poucos, com que ela volte a ser uma moça normal. Minha mãe, que foi capturada pelos nazistas aos oito anos de idade, sempre escondeu, com um silêncio dolorido, tudo pelo que passou até 1945. Mas, sim, foi uma pessoa normal, carinhosa, dedicada, ainda que até o fim da vida desconfiada e pouco receptiva com desconhecidos.
Não me contaram se foi consequência de uma corneta ou da queda da bandeira branca. Mas ambas as partes seguem mentindo deslavadamente e culpam-se, umas às outras, pelo reinício das hostilidades. De fato, tanto faz.
A partir de hoje, esse caçador de pérolas de má-fé e obtusidades, terá farto material para se intrometer. Guerras são dinâmicas, os fatos são mais velozes do que a análise.
O Jerusalém Post informa que dezenas de mísseis do Hamás voltaram a voar sobre Tel Aviv e, como prova, publica fotos de uma fumaceira qualquer, que pode ter ocorrido hoje ou há cinquenta dias. As sirenes voltaram a tocar e, aparentemente, os circunstantes voltaram a interromper o falafel e o café que andaram consumindo nos dias em que consideraram que os inimigos já não dispunham de qualquer poder.

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