Perdido em Israel - Trecho 78
Enfado e trevas
Na prática, as forças de pressão mundial têm aliviado, a sorte está lançada (alea jacta est) – um, clichê do tempo dos imperadores romanos) e não há fatos novos, sequer alianças no horizonte. Algumas vezes fica, mesmo, a sensação de que os embates estão minguando e que basta haver um pouco de juízo das forças beligerantes para que o apocalíptico final (que eu mesmo agourei páginas atrás) sequer ocorra.
Seria ótimo, e só macularia, enfim, minha vocação para pitonisa e o destino da população dessa faixa. Israel insiste que não vai deixar um único membro do Hamás na região e tem o sonho de instalar, no local, um governo títere que garanta eleições honestas e seja capaz de gerir os bilhões que serão necessários para reconstruir o que já se foi e continua indo.
Presumo que os próprios palestinos inocentes de Gaza já aceitem essa solução, porque estão fartos dessa lenga-lenga sanguinária e dogmática. Mas só presumo, porque não sei – e uma visão contrária também é aceitável: novas serpentes e seu ovos quiçá rastejem, em breve, pela mesma causa.
Mas se a guerra anda enfadonha por esses dias, o que dela se desconhece para o futuro ainda é excitante e perigoso. Um toco de cigarro mal apagado e arremessado pode acertar um depósito subterrâneo de combustível fóssil, matar centenas de cidadãos de ambos os lados, devolver aos israelenses a pecha de genocidas e mudar a atitude dos países e milícias.
Acabei de ser informado que estamos em pleno Hanuká, a festa das luzes, uma das datas tradicionais e simbólicas para o povo judeu. Quando garoto, era comemorado com presentes da família para as crianças, uma forma de compensá-las pela ausência do Natal - festa cristã, também com muitos regalos. A comemoração dura uma semana e, a cada dia, nova vela é acesa num castiçal múltiplo, chamado menorá, de inúmeros significados teológicos para o Hanuká, sobre os quais nunca me interessei. Mas é claro que gostava dos presentes. Não celebro essa ocasião há décadas, mas, hoje, tenho um justo motivo para não fazê-lo outra vez. Não há luzes nas trevas.
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