Perdido em Israel - Trecho 72

O Jerusalem Post informa que dezenas de mísseis do Hamás voltaram a voar sobre Tel Aviv e, como prova, publica fotos de uma fumaceira qualquer, que pode ter ocorrido hoje ou há cinquenta dias. As sirenes voltaram a tocar e, aparentemente, os circunstantes voltaram a interromper o falafel e o café que andaram consumindo nos dias em que consideraram que os inimigos já não dispunham de qualquer poder.

De novo, o silêncio cai como neblina densa na área em conflito, é tempo de aguardar antes de noticiar. No entanto, analisar já é possível: o comentarista da Al Jazeera, maior conglomerado de comunicações do mundo árabe, Zoran Kusovac, dá o novo tom:
“Estender a invasão por terra rumo à parte sul de Gaza, vai significar uma perigosa escalada na guerra. No mínimo 1,8 milhão de palestinos foram deslocados pelos bombardeios israelenses rumo ao sul. Isso significa que essa área está tão superlotada que um ataque de Israel pode forçar os palestinos a romperem as fronteiras em direção ao Egito. Desde o início do conflito, o Egito avisa que não vai aceitar nenhum refugiado. No pior dos cenários, o Egito vai usar força para impedir a entrada dos palestinos. O resultado disso tudo vai, quase certamente, jogar no conflito vários grupos armados. Estados, que até agora mostraram paciência, também devem entrar na guerra, à espera de uma saída racional para a guerra.”
De certa maneira, a análise de Kusovac coincide com o olhar pessimista que tenho colocado nesse relato. Em outras palavras: todos os possíveis encerramentos do conflito serão trágicos e, potencialmente explosivos, com consequências que podem redesenhar o mapa da região – aliás nunca bem esboçado.
Também hoje, o jornal The New York Times publica as transcrições de um relatório interno dos comandantes de Israel que confirmam, o seu conhecimento antecipado de que algo iria ocorrer na faixa de Gaza, ao menos um ano antes do ataque de 8/10. Dezenas de indícios foram colocados na mesa de Netanyahu e seus pares, que, com a soberba habitual, consideraram o assunto irrelevante - e afirmaram que o Hamás não teria força ou coragem para atacar Israel.
O relatório acabou engavetado por incúria ou preguiça. 

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