Perdido em Israel - Trecho 71

Recomeço

A guerra está de volta, conforme o esperado. O assunto volta a ocupar espaço de destaque no noticiário. Foram sete dias de pausa, com 100 reféns israelenses liberados e 240 palestinos soltos. É o que registram os números, provavelmente distorcidos, mas, felizmente, alguns se safaram. Cada caso é diferente, mas me impressionou muito o caso da menina, que cumpriu seu nono aniversário no cativeiro e voltou para Israel sem voz ou articulação, quase afásica. Ela rejeita o carinho dos pais e passa os dias choramingando embaixo do cobertor.
O tempo e as terapias podem fazer, aos poucos, com que ela volte a ser uma moça normal. Minha mãe, que foi capturada pelos nazistas aos oito, sempre escondeu, com um silêncio dolorido, tudo pelo que passou até 1945. Mas, sim, foi uma pessoa normal, carinhosa, dedicada, ainda que até o fim da vida desconfiada e pouco receptiva com desconhecidos.
Não me contaram se foi consequência de uma corneta ou da queda da bandeira branca. Mas ambas as partes seguem mentindo deslavadamente e culpam, umas às outras, pelo reinício das hostilidades. De fato, tanto faz. Voltarão as acusações, as campanhas antissemitas e antipalestinas, a efervescência do terror.
A partir de hoje, esse caçador de pérolas de má-fé e obtusidades, terá farto material para se intrometer. Guerras são dinâmicas, os fatos são mais velozes do que a análise Já, já anuncia-se que outro hospital foi destroçado ou que palestinos apanharam civis indefesos em alguma cidade de Israel. Os líderes de parte-a-parte, sublinham suas bravatas. Netanyahu insiste que vai eliminar os terroristas de Gaza. O Hamás garante que isso nunca ocorrerá.
E então o quê? No mar de petróleo que ocupa quase todo o Oriente Médio, devem viver serpentes imensas em plena preparação de seu próximo bote. O Palestine Chronicle, como era de se esperar, anuncia que mais 109 habitantes de Gaza foram mortos ainda hoje, contra apenas seis israelenses. Pelo jeito, entre as muitas dificuldades que passam, nada diminui sua avidez em produzir atestados de óbito antes mesmo de que eles sejam contados (ou atingidos).

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