Perdido em Israel - Trecho 70
Da medalhinha pra cima!
Pasmaceira geral. Acusações de fraudes à trégua de lado a lado. Mas há reféns libertados e, só por isso, o resto vale a pena. O que vejo é um jogo de futebol tenso em que os jogadores foram à violência, torcedores invadiram o campo e o árbitro foi obrigado a suspender a partida. No corredor do estádio, ecoam promessas de morte, ataques pessoais e palavrões cabeludos.O intervalo é uma pausa para mudar o tom do espetáculo. Jogadores se juram ao voltar ao gramado. A torcida urra e, havendo duas no estádio, fica ainda pior. Todos com os nervos à flor da pele, dedicam-se mais, correm mais riscos e defendem com mais afinco as suas cores. “Pode bater da medalhinha pra cima!”, exagera o treinador, orientando seus jogares para a batalha que está recomeçando. “Medalhinha pra cima”, no jargão do esporte, significa, bater no adversário acima da linha do pescoço.
Em Gaza, sinto imaginar que o clima é esse. Com o fim do cessar-fogo a qualquer momento, uns vão para cima dos outros autorizados a “pegar da medalhinha pra cima”
“Genocidas!”, seguirão acusando os pró-palestinos.
“Covardes!”, dirão, de novo, os pró-isralenses.
Lembro-me de um colega gaúcho que se sentava cedo em sua máquina de escrever, trabalhava sem pausas (acho que nem mesmo para ir ao banheiro), não dizia qualquer palavra e, em determinado momento, levantava-se com um grito libertador: “Basta! Estou farto!”
Pois é minha vez de fazê-lo: “Basta! Estou farto!”. De ouvir bobagens de ambas as partes, de “seguidores”, diplomatas, professores em busca de destaque, analistas militares e franco-atiradores.
Trégua é guerra. Guerra é ruim.
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