Perdido em Israel - Trecho 68




É imperioso contar: poucos anos depois de minha única visita à Israel, numa época em que produzia poemas aos borbotões (alguns que guardei e outros que resolvi dispensar de meu currículo), escrevi três páginas rimadas sob o tema “Sim, é preciso que a guerra continue”.
Nunca mais o vi, mas fiquei surpreso com minha tese incomum de aspecto beligerante – de tal forma que eu nunca o esqueci. Eu não defendia as guerras como fatores de seleção natural ou de expressão cruel para a realidade de que os brutos sempre vencem. Eu apenas achava (e talvez ainda pense o mesmo) que os conflitos extraem o pior e o melhor dos homens – e mulheres e crianças. Convocam a essência do que sentem e pensam. Deixam-nos permanentemente alertas e distantes das futilidades de sua existência.
O mais pacato dos cidadãos torna-se perigoso e conceitos como amor, empatia, medo e ódio afloram de uma maneira primitiva, como o dos mais longínquos de nossos antepassados. Veja no que resultam: em arcos de triunfo como o de Paris, o de Berlim e os de Londres. Milhões de pessoas visitam a Muralha da China ou a Alhambra, em Granada, ex-fortalezas e castelos que têm sangue em sua argamassa.
A vitória inebria os viajantes, ainda que carregue, em seu bojo, a derrota. Como no caso do grandioso túmulo de Napoleão, na monumental cripta dos Invalides, em Paris ou o de Lenin (que já abrigou Stálin e outros heróis soviéticos) nos mausoléus da Praça Vermelha, em Moscou.
Não há nenhum tão visitado quanto o Al-Masjid Na-Nabawi, na cidade de Medina, que contém os restos mortais de Maomé, fundador do islamismo, mas os chineses idolatram o sepulcro de Mao-Tsé-Tung, na praça Tianmen, em Pequim – também conhecida como praça da paz celestial.
Existem cidades e lugar sagrados relativos à guerras diversas em território maia, asteca, no Camboja, na Índia e em centenas de outros países. Foi o horror de suas vítimas que os tornou célebres, a guerra tira o melhor e o pior de cada um de nós.

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