Perdido em Israel - Trecho 66

O Brasil entra na guerra.

O Brasil está, agora oficialmente, entre as nações que apoiam a causa do Hamás. O presidente Lula ingressou – e no momento mais inadequado possível – no rol de países antissemitas. O que, por um lado, renega sua política de equidistância e mediação, faz do Itamaraty uma instituição pífia (como o próprio governo de Israel) e sugere, apenas sugere, que não hesitaria em enviar tropas contra a “entidade sionista”, que, contraditoriamente, foi criada pelo martelo do diplomata brasileiro Osvaldo Aranha.
 Pior que isso, escancara as portas para movimentos de ódio contra judeus brasileiro, inaugurando uma caça às bruxas que não se sabe onde vai dar. Lula age, agora, de forma similar ao seu arqui-inimigo Bolsonaro: irresponsável, perigoso e com base nas mais agressivas redes sociais.
 Conheço Lula há muitos anos, estive no famoso estádio da Vila Euclides, espantei-me com seu carisma e achei, portanto, que nascia, enfim, um líder com potencial de governar o país. Mais tarde, em ao menos duas ocasiões, convivemos. Eu participava de um talk-show noturno na TV Record (então propriedade da família Machado de Carvalho) e, antes de o programa entrar no ar, sentavamos, lado a lado, para um período de relaxamento no bar da emissora, que levava o divertido nome (inaceitável, hoje), de bar do Zé Buça ou Zé Bussa, conforme a pudidícia do leitor. 
 Bebíamos cervejas e algumas cachaças. Ele tinha barbas negras, era ótima pessoa - sempre muito assediada. Falávamos de futebol e mulheres, como até hoje fazem os homens quando se reúnem em botecos.  
Desde ontem, quando, para anunciar o lado do conflito que escolheu, Lula resolveu condecorar, com a mais elevada honraria de sua diplomacia, o embaixador palestino no Brasil, acho, mesmo que nosso presidente está “gagá” – e não é sombra daquele ser vivaz, justo e idealista do passado. Não beberia de novo com ele. E jamais com o vergonhoso ser humano que é seu arquirrival. 
Pois eis que a revista Forum, órgão oficial do Partido dos Trabalhadores, de Lula, aproveitou a troca de prisioneiros para produzir esta pérola de isenção:
SP: Festival Palestina Livre reúne artistas para denunciar genocídio promovido por Israel em Gaza
O Galpão Elza Soares, no centro de São Paulo (SP), será palco neste sábado (25) do Festival Palestina Livre, uma iniciativa do Movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS-Brasil). O evento, que terá início a partir das 12h, destaca a luta por justiça e liberdade na Palestina, ao mesmo tempo em que denuncia o regime de apartheid israelense e o genocídio que vem sendo promovido pelo Estado de Israel na Faixa de Gaza.
Mais veneno para reforçar o sentimento antissemita num país que sabia viver em relativa paz. Penso em construir um bunker para me esconder disso tudo.

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