Perdido em Israel - Trecho 55

Bastou que Israel começasse a retaliar a Faixa de Gaza, descobriu-se que o Brasil, tão diverso e tolerante, não era mais uma pátria segura. Amigos, redes sociais e manifestações pró-Palestina fizeram brotar, num piscar de olhos, um antissemitismo virulento, que – exceto por grupelhos sem representação – não se imaginava real ou sequer plausível. 
Foi quando se deu conta de que era, mesmo, tudo verdade. Ser judeu, descobriu, é ser parte de um pacote que hoje, amanhã ou a qualquer momento, vai ser chutado, rasgado ou queimado. Não importa que viés político adotem, se escreveram “O Capital”, como Karl Marx ou relativizaram tempo e espaço, como Albert Einstein. 
Peleou, leu muito, acompanhou os noticiários (infelizmente nada confiáveis) e passou a ser parte da grande rede informal defesa de sua própria condição, agora tão sublinhada.
Não sei se isso é bom ou ruim, mas é o que está acontecendo.
A súbita indignação de meu filho, de outros judeus e de milhões de pró hamazistas obnubila o horizonte. E ambas as partes cometem atos risíveis e oportunistas dia após dia. Hoje, 16 de novembro, acompanhei noticiários virulentos e, porque não dizer, francamente imbecis.
Um tenente coronel do exército israelense fez-se filmar nas áreas ocupadas do hospital Al Shifa, em Gaza mostrou ao mundo ter encontrado armas dentro de aparelhos de ressonância de magnética da casa de saúde. 
Tiro pela culatra. Apenas armas leves, poucas, que qualquer observador honesto poderia, muito ao contrário do tal militar, afirmar pertencerem a soldados do Hamás, feridos e internados em Al Shifa, alguns deles moribundos, outros já mortos. Não parece prova alguma, porque doentes não vão, com suas AK-47 ou qualquer tipo de arma para os leitos aos quais foram encaminhados. Nem em Nova York nem em Kiev ou em São Paulo.
O entusiasmo nacionalista do fulano, porém, foi, para a outra parte, uma prova inquestionável de que judeus mentem.
Mentem, sim, como mentem. E saqueiam cidades turísticas da Holanda ou vandalizam hotéis de Atenas, como já se viu. 
As imagens que poderiam ter feito diferença seriam as que mostrassem os alegados túneis no porão do hospital, dentro dos quais os terroristas do Hamás seguiriam planejando operações para futuros contra-ataques letais.
No mesmo dia, uma moção apresentada pela pequena, heroica e bela nação de Malta, foi finalmente aceita pelo Conselho de Segurança da ONU, propondo uma “pausa humanitária” na Faixa de Gaza.
Israel deu de ombros à resolução, amplificando sua imagem de arrogância sem limites e irritando boa parte de seus aliados, se é que eles existirão depois disso tudo.

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