Perdido em Israel - Trecho 45

Não são apenas as notícias, mas os títulos malfeitos que afetam a opinião pública.
Repare nessa manchete que leio em um site de enorme audiência e diz exatamente o seguinte:


“Israel encontra líder do Hamas em túnel de Gaza, mas ‘valentão’ Netanyahu recua”.

O artigo é de autoria de um bom articulista e tem consistência. O título, que deve ter sido criado por um editor de baixa extração, leva, porém, o leitor a concluir que:
1- Que o incompetente presidente de Israel encontrou, pessoalmente, um arqui-inimigo na faixa que está sendo atacada e o deixou escapar por pura covardia (é o que conota o adjetivo valentão.
2- Que, talvez (e com grande probabilidade) o líder da outrora chamada terra prometida, morra de medo de escuro e, talvez por isso, tenha se evadido do túnel.
3- Ainda pior: que os judeus são covardes, como sempre foram e por isso quase sumiram da face da Terra.
4- Que o líder do Hamas saiu sorridente do túnel e quiçá tenha ido matar um refém para comemorar.
5-Que valentões judeus não tem mesmo o direito de viver em terra alguma.
Ao ler o artigo (o que poucos fazem, contentando-se com as manchetes), compreende-se que são várias informações condensadas num único texto; que o líder terrorista foi de fato encontrado e preso; que Netanyahu, “valentão” (outra notícia) fez novas concessões aos políticos ultra ortodoxos, para garantir sustentação política em um futuro que, com quase toda a certeza, não virá.
Tituleiros palermas (como se diz no jargão jornalístico) podem operar o estrago de uma bomba sem direção na opinião pública, ainda que não estejam alinhados a partes envolvidas no conflito.
Lembro-me, saindo um pouco do assunto, que, em certa reportagem de uma revista que dirigi, chamada na capa, por um erro do redator, do revisor e - claro, de mim mesmo, como diretor da redação- a ilha de Comandatatuba, na Bahia foi chamada de Comanda-ta-ta-tuba.
Um engano estúpido que, entretanto, gerou risadas sonoras na redação quando a revista foi publicada, cartas jocosas de leitores atentos. Minha providência foi a de, nas futuras capas, exigir que todos os funcionários as lessem com atenção: mais gente vendo, menos erros.

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