Perdido em Israel - Trecho 73

 


Conta de padeiro

Começa dezembro, o calor já não é intolerável, a meteorologia refresca levemente os povos em conflito. Números imaginários voejam por toda a região. Segundo levantamentos, as forças de defesa de Israel já liquidaram 15 mil (alguns dizem 16 mil) palestinos. É impossível saber quantos deles do Hamás e quantos inocentes palestinos.
É uma quantidade monstruosa de vítimas, mas os aritméticos de plantão podem testemunhar que, num único dia de cerco russo à cidade ucraniana de Mariupol no ano passado, trinta e cinco mil cidadãos perderam a vida.
Se existem, de fato, 2 milhões de habitantes em Gaza ou 2.5 milhões como se tem falado, é conta de padeiro que os “homicidas incontroláveis” atingiram, até agora, 0,6% da população de Gaza; 99.4% dos moradores não foram atingidos.
Muitíssimo e quase nada, ainda que cada vida seja uma história e cada história uma esperança. Em Auschwitz, que é mesmo sinônimo de genocídio, cada fornada produzia essa quantidade de mortos indefesos em menos de uma hora.
Em outras palavras: ou o conflito de Gaza sequer decolou em quase dois meses, ou o Armagedon, a batalha final entre Deus e a Humanidade iníqua, está por vir ainda em breve.
Não tenho compromisso com a matemática e asseguro que todos os números acima apresentados podem variar um pouco para cima ou para baixo, o que tanto faz. Outras grandezas quase imensuráveis – que incluem a farta prosperidade da indústria bélica, a incerteza dos mercados, o preço do pepino, a multiplicação das asneiras e a miséria das multidões – são o resultado desproporcional dessa, ainda, insignificante batalha.
Segue a mortandade de lado a lado. É de se pensar que a trégua não confirmou a expectativa de novas táticas ou, apenas, ainda não. O noticiário, maçante, não reporta mudanças no jogo – e jogos maçantes tendem a não merecer destaque na mídia. Netanyahu assegura que vai cumprir sua meta de destruir o Hamás até o fim e, se for desse jeito, as torneiras de sangue seguirão jorrando por tempo indeterminado. Até, é claro, que novo fato grave (verdadeiro ou não) reacenda o radicalismo.

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