Perdido em Israel - Trecho 34

Em qualquer guerra, a primeira vítima é a verdade (ora atribuída a um senador norte-americano, ora a um visconde inglês e há mesmo quem creia ter sido proferida por Ésquilo, o dramaturgo grego que criou a tragédia, mas afinal celebrizada no livro A Primeira Vítima, do repórter e escritor anglo-australiano Philip Knightley.

Se em séculos anteriores, muito antes do boom de comunicação que nos assola hoje em dia (sim, assola é a palavra adequada em tempo de notícias mal-feitas, mal-editadas e frequentemente falsas), as verdades sumiam no ar ao primeiro tiro, manipuladas pelos próprios países beligerantes, hoje a mentira grassa com a velocidade de um rastilho de pólvora. Os países que lutam, seus afetos, desafetos e ineptos de ocasião.
Quando o povo judeu está envolvido, então, renasce o velho germe do antissemitismo.
Nazistas de todas as nacionalidades saem dos porões em que estavam ocultos para lamentar que Hitler não tenha tido tempo de concluir o extermínio programado, criando, com isso, um exército de seguidores que não tem a menor ideia do que foi o Holocausto, mas adoram ideias xenófobas, racistas e potencialmente encharcadas de sangue.
O sangue judeu parece, aliás, ter odor especial, como mostra a historiografia.
O dia 7 de outubro de 2023, com suas imagens repugnantes, de gente morta em casa, numa rave, esquartejamentos de crianças, rapto de inocentes, foi uma sensação mundial.
Notícias, imagens e manifestações solidárias aos 1500 mortos no ataque do grupo Hamas vicejaram na mídia. Avisei a amigos, filhos, netos e minha própria mulher que o discurso iria mudar com a velocidade de um foguete. Já no dia seguinte, cientes de que Israel retaliaria a Faixa de Gaza, valhacouto do Hamas, um bando capaz de sequestrar o sonho e a liberdade do próprio povo palestino, surgiram as primeiras análises que mostravam o Hamas como vítima e pediam que inocentes na região fossem poupados na intensa bateria aérea que veio em reação. Disfarçados de defensores de causas humanitárias, esses mesmos analistas – e muitos outros ao redor do mundo - amplificaram sua indignação e afirmaram que Israel tornara-se um país genocida.
Tudo dentro do esperado.

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