Perdido em Israel - Trecho 23
Terceiro do interlúdio.
Era molezinha: já sabíamos o trecho de cor e salteado, assim como conhecemos os hinos de nossos times de futebol. Então íamos mexendo com o tal dedo de ouro sem nenhum critério e dizíamos o que devíamos dizer: a decoreba do trecho em hebraico, que liamos com a voz desafinada dos que têm treze anos, servia para que o rabino abrisse a Torá, que é uma espécie de rolo de pergaminho cheio de palavras incompreensíveis e fizéssemos o bar-mitzvá, em apenas dez ou quinze minutos.
Era molezinha: já sabíamos o trecho de cor e salteado, assim como conhecemos os hinos de nossos times de futebol. Então íamos mexendo com o tal dedo de ouro sem nenhum critério e dizíamos o que devíamos dizer: a decoreba do trecho em hebraico, que liamos com a voz desafinada dos que têm treze anos, servia para que o rabino abrisse a Torá, que é uma espécie de rolo de pergaminho cheio de palavras incompreensíveis e fizéssemos o bar-mitzvá, em apenas dez ou quinze minutos.
Quando acabávamos, a plateia, deliciada, gritava Mazal Tov, uma espécie de Parabéns! em hebraico. Ganhávamos o talit, um tipo de xale ritual que só os judeus adultos podem usar – e só a partir daquele evento.
Até hoje eu me lembro da primeira e da segunda frases do meu bar-mitzva. Elas me abriam o apetite porque, debaixo da casa do professor Bürnbaum - um homem gordo, querido e bonachão que me fazia repetir o trecho até o infinito - funcionava uma padaria que, na hora da aula, produzia uma fornada de pães e doces quentinhos, de aroma inebriante.
O trecho dizia alguma coisa sobre o telhado de metal do palácio do rei David, parte aleatória da Torá, que é, claro, conta uma história com começo, meio e e muitos finais.
Então aconteceu: como disse, um ano mais tarde, o astronauta Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua, tinha sido “um pequeno passo para um homem e um grande passo para a Humanidade”. Pelo menos é que parecia, pela alegria dos convidados.
É bom que vocês saibam que minha vida, naquele tempo, era uma correria. Acho que meus avós gostariam que eu fosse um príncipe: tinha aulas de jiu-jitsu, tênis, equitação, francês, inglês, alemão e até dança de salão, uma atividade que, ainda bem, anda fora de moda. Sem contar a escola (a minha chamava-se Colégio Rio Branco, que era muito rígida e ficava longe de casa)
Para fazer o tal de bar-mitzvá, que eu nem entendi bem por qual razão, tive de abrir mão de algumas dessas aulas por um tempo. Senti falta, também, do futebol diário no campinho. A vovó Krystyna rodava que nem peão para me levar e buscar em tantos lugares, sem contar que fazia o mesmo com minha irmã. Próximo - trecho 24
Era molezinha: já sabíamos o trecho de cor e salteado, assim como conhecemos os hinos de nossos times de futebol. Então íamos mexendo com o tal dedo de ouro sem nenhum critério e dizíamos o que devíamos dizer: a decoreba do trecho em hebraico, que liamos com a voz desafinada dos que têm treze anos, servia para que o rabino abrisse a Torá, que é uma espécie de rolo de pergaminho cheio de palavras incompreensíveis e fizéssemos o bar-mitzvá, em apenas dez ou quinze minutos.
Quando acabávamos, a plateia, deliciada, gritava Mazal Tov, uma espécie de Parabéns! em hebraico. Ganhávamos o talit, um tipo de xale ritual que só os judeus adultos podem usar – e só a partir daquele evento.
Até hoje eu me lembro da primeira e da segunda frases do meu bar-mitzva. Elas me abriam o apetite porque, debaixo da casa do professor Bürnbaum - um homem gordo, querido e bonachão que me fazia repetir o trecho até o infinito - funcionava uma padaria que, na hora da aula, produzia uma fornada de pães e doces quentinhos, de aroma inebriante.
O trecho dizia alguma coisa sobre o telhado de metal do palácio do rei David, parte aleatória da Torá, que é, claro, conta uma história com começo, meio e e muitos finais.
Então aconteceu: como disse, um ano mais tarde, o astronauta Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na Lua, tinha sido “um pequeno passo para um homem e um grande passo para a Humanidade”. Pelo menos é que parecia, pela alegria dos convidados.
É bom que vocês saibam que minha vida, naquele tempo, era uma correria. Acho que meus avós gostariam que eu fosse um príncipe: tinha aulas de jiu-jitsu, tênis, equitação, francês, inglês, alemão e até dança de salão, uma atividade que, ainda bem, anda fora de moda. Sem contar a escola (a minha chamava-se Colégio Rio Branco, que era muito rígida e ficava longe de casa)
Para fazer o tal de bar-mitzvá, que eu nem entendi bem por qual razão, tive de abrir mão de algumas dessas aulas por um tempo. Senti falta, também, do futebol diário no campinho. A vovó Krystyna rodava que nem peão para me levar e buscar em tantos lugares, sem contar que fazia o mesmo com minha irmã. Próximo - trecho 24
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