Perdido em Israel - Trecho 21
Primeiro do interlúdio.
Carta aos meus pequenos aprendizes.
Foi em algum dia de março de 1968. Um ano em que o Santos, como sempre, foi campeão, vivíamos uma ditadura cruel, não podíamos eleger presidentes, governadores, prefeitos e o mundo mudou muito com movimentos juvenis na França e na então Tchecoslováquia.
É importante dizer o ano, porque o mundo era muito diferente naquela época. Tínhamos telefones de cinco dígitos (3-3403 era o de minha avó Antonina) e ninguém usava a palavra dígitos, porque ela apareceu na vida da gente muito mais tarde. A televisão era, quase sempre, um armário com portas, com tela preto e branco e sem controle remoto. A imagem tinha chuviscos e vivíamos tendo de mudar a posição de duas barrinhas de ferro que serviam como antenas – e, acreditem, tinham Bom Bril nas pontas para melhorar a captação.
O mundo era menos complexo: não havia celulares, videogames e – vejam só – nem uma ideia do que seria o Facebook e o TikTok.
Alguns, como eu, gostávamos de ler, o que fez muita diferença em nossas vidas. Outros nem tanto, mas é impossível dizer se para eles o futuro foi melhor ou pior. Os carros eram poucos e quase todos muito ruins. Dos produzidos no Brasil só o Fusca (o vermelho é da Helena!) e o DKW eram confiáveis. Havia, também, um sem número de automóveis importados, todos eles muito apreciados porque a gente os via nas séries de tevê e nas matinês dos filmes de cinema norte-americanos.
Meu pais tinham um DKW, também chamado por muitos de Deutsche Kinder Wagen (carro alemão para crianças), porque era pequeno. Não menor do que o Fusquinha, mas mais engraçado. As portas abriam-se da frente para trás e o motor, chamado de dois tempos, tinha o som de motocicleta. Ninguém usava cinto de seguranças – e nesse sentido o mundo evoluiu.
Havia poucos e caros aparelhos de ar-condicionado, mas, pelo menos aqui em São Paulo, o calor era mais suave do que o de hoje, porque a cidade tinha menos construções e nem se pensava no tal aquecimento global, que acabou vindo. A cidade era menor, mais verde e tinha uma famosa garoa pela manhã e no início da noite.
Próximo - trecho 22
Carta aos meus pequenos aprendizes.
Foi em algum dia de março de 1968. Um ano em que o Santos, como sempre, foi campeão, vivíamos uma ditadura cruel, não podíamos eleger presidentes, governadores, prefeitos e o mundo mudou muito com movimentos juvenis na França e na então Tchecoslováquia.
É importante dizer o ano, porque o mundo era muito diferente naquela época. Tínhamos telefones de cinco dígitos (3-3403 era o de minha avó Antonina) e ninguém usava a palavra dígitos, porque ela apareceu na vida da gente muito mais tarde. A televisão era, quase sempre, um armário com portas, com tela preto e branco e sem controle remoto. A imagem tinha chuviscos e vivíamos tendo de mudar a posição de duas barrinhas de ferro que serviam como antenas – e, acreditem, tinham Bom Bril nas pontas para melhorar a captação.
O mundo era menos complexo: não havia celulares, videogames e – vejam só – nem uma ideia do que seria o Facebook e o TikTok.
Alguns, como eu, gostávamos de ler, o que fez muita diferença em nossas vidas. Outros nem tanto, mas é impossível dizer se para eles o futuro foi melhor ou pior. Os carros eram poucos e quase todos muito ruins. Dos produzidos no Brasil só o Fusca (o vermelho é da Helena!) e o DKW eram confiáveis. Havia, também, um sem número de automóveis importados, todos eles muito apreciados porque a gente os via nas séries de tevê e nas matinês dos filmes de cinema norte-americanos.
Meu pais tinham um DKW, também chamado por muitos de Deutsche Kinder Wagen (carro alemão para crianças), porque era pequeno. Não menor do que o Fusquinha, mas mais engraçado. As portas abriam-se da frente para trás e o motor, chamado de dois tempos, tinha o som de motocicleta. Ninguém usava cinto de seguranças – e nesse sentido o mundo evoluiu.
Havia poucos e caros aparelhos de ar-condicionado, mas, pelo menos aqui em São Paulo, o calor era mais suave do que o de hoje, porque a cidade tinha menos construções e nem se pensava no tal aquecimento global, que acabou vindo. A cidade era menor, mais verde e tinha uma famosa garoa pela manhã e no início da noite.
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