Perdido em Israel - Trecho 16
Minha tarefa, pelo tempo que levasse, era recolher as aves do velho para o novo galinheiro. Fui treinado imediatamente. Eu deveria me dirigir, após o jantar, para o cativeiro em ruínas, apanhar quatro galinhas ao mesmo tempo numa única mão (a outra era destinada a movimentos defensivos), percorrer os 200 ou 300 metros de distância até a nova instalação e abrigar as poedeiras nas gaiolas novas. Quatro era o número de cada movimentação, garantindo a produtividade esperada pela assembleia geral do kibutz.
Parecia ser, de fato, outro trabalho leve, embora, como já expliquei, as temperaturas chegavam a ser negativas durante a noite. Não me lembro de contar com nenhum equipamento especial, exceto um par de luvas de couro, que se mostraram fundamentais.
O sítio de meu pai no interior de São Paulo tinha seu próprio galinheiro de dimensões diminutas, nunca tive nada contras as aves que viviam ciscando no terreiro, e a nova incumbência não devia me incomodar. Também me advertiram de que o trabalho teria de ser realizado obrigatoriamente à noite, momento em que as aves, grandes, de uma certa espécie cujo nome não guardei, estariam “mais calmas”, seja o que isso significasse.
Afirmo, contudo, que já na primeira noite da longa transferência, descobri o lado cruel e dolorido da tarefa. Quando abri a primeira gaiola antiga, as pobres enclausuradas cacarejaram num volume que eu nunca tinha ouvido antes. Diria mesmo com a estridência de um filme de terror. A primeira que apanhei, sempre pelas patas – conforme a instrução – não demorou para, apoiada em seus próprios músculos e asas, lascar-me uma bicada no antebraço, diversos centímetros acima da proteção da luva. O sangue, meu sangue, voltava a jorrar naquela terra em construção.
Apanhar quatro numa mão só, todas elas tão resistentes como um exército de defesa, demandava diversos minutos e diversas bicadas. Eram pesadas as aves: arrisco dizer que pesavam cerca de dois quilove meio cada e, durante a caminhada até o novo alojamento, debatiam-se de forma incessante. Pelo estresse evidente, levariam alguns dias a voltar a produzir seus ovos. E o carregador temia perder o braço de tão bicado que era.
Parecia ser, de fato, outro trabalho leve, embora, como já expliquei, as temperaturas chegavam a ser negativas durante a noite. Não me lembro de contar com nenhum equipamento especial, exceto um par de luvas de couro, que se mostraram fundamentais.
O sítio de meu pai no interior de São Paulo tinha seu próprio galinheiro de dimensões diminutas, nunca tive nada contras as aves que viviam ciscando no terreiro, e a nova incumbência não devia me incomodar. Também me advertiram de que o trabalho teria de ser realizado obrigatoriamente à noite, momento em que as aves, grandes, de uma certa espécie cujo nome não guardei, estariam “mais calmas”, seja o que isso significasse.
Afirmo, contudo, que já na primeira noite da longa transferência, descobri o lado cruel e dolorido da tarefa. Quando abri a primeira gaiola antiga, as pobres enclausuradas cacarejaram num volume que eu nunca tinha ouvido antes. Diria mesmo com a estridência de um filme de terror. A primeira que apanhei, sempre pelas patas – conforme a instrução – não demorou para, apoiada em seus próprios músculos e asas, lascar-me uma bicada no antebraço, diversos centímetros acima da proteção da luva. O sangue, meu sangue, voltava a jorrar naquela terra em construção.
Apanhar quatro numa mão só, todas elas tão resistentes como um exército de defesa, demandava diversos minutos e diversas bicadas. Eram pesadas as aves: arrisco dizer que pesavam cerca de dois quilove meio cada e, durante a caminhada até o novo alojamento, debatiam-se de forma incessante. Pelo estresse evidente, levariam alguns dias a voltar a produzir seus ovos. E o carregador temia perder o braço de tão bicado que era.
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