Perdido em Israel - Trecho 15

O cemitério de bolas

O tema das minas, aliás era recorrente naquele território esfacelado e em litígio permanente.
Nosso kibutz, por exemplo, situava-se a cerca de quinhentos metros de distância de um vilarejo de Tulkarem, já em território palestino, segundo as fronteiras da época. Não me lembro de qualquer hostilidade ocorrida naquela minha temporada, mas hoje acho poética a lembrança que tenho de um campo cheio de bolas (bolas mesmo: de futebol, vôlei e basquete) que ficava atrás de um alambrado, limite superior da comunidade, bem em frente a pequena cidade palestina.
Nos finais de tarde costumávamos usar essa área de lazer, em peladas entre jogadores com algum talento e outros com nenhuma. Era raro, mesmo para os pernas-de-pau, mas uma ou duas vezes naquela temporada, as bolas escaparam por cima da cerca alta, rumo a campo verde e intensamente minado. Não era, nunca, portanto, um até logo, mas um adeus definitivo à pelota, vítima inocente daquele turbilhão político e militar que, até hoje, não encontrou um fim.
Presumo que o tempo tenha murchado ou destruído aquele cemitério peculiar
No terceiro retorno ao posto médico, com a furunculose amainada por medicamentos dos quais nunca soube o nome, a profissional de saúde deu-me uma certa “alta”. Ela ainda não me considerava saudável o suficiente para voltar à colheita de cítricos, mas já me autorizava a serviços menos um pouco mais pesados, de acordo com as prioridades da comuna.
Uma outra pessoa, novamente metida em trajes militares, determinou, então, que eu trabalhasse exclusivamente no período noturno, em missão especial.
Não, nada de glamuroso ou que me encaminhasse a virar um espião do Mossad, o serviço secreto de um país que nem era meu. Contou-me o chefe de plantão que, há algumas semanas, um grupo de camaradas do kibutz vinha tratando de construir um novo aviário no qual, doravante, iriam viver as duas, três ou cinco mil galinhas que habitavam o anterior.

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