Perdido em Israel - Trecho 14

Também visitamos, mais de uma vez, o kibutz Bror Chail, fundado por egípcios em 1947 mas depois colonizado por brasileiros, centenas deles.

Metade dos que chegaram conosco ao aeroporto de Lod foi encaminhada para essa comunidade brasileira, na cidade de Siderot, bem próxima ao que hoje é a faixa de Gaza. Os demais, por escolha que presumo aleatória, acabaram no kibutz onde eu lavava pratos, chamado Bahan, a vinte quilômetros de distância de Netanya, cidade à beira do Mediterrâneo.
Como era possível que viajássemos tanto em apenas um dia sem trabalho?
Quem não souber a resposta para essa questão, precisa ir à Israel, um país tão pequeno que, segundo uma piada local, qualquer visitante conhece por inteiro (exceto pelos desertos) na metade de um único dia. É, claro, um exagero da anedota, mas o fato é que, ainda hoje, o território dito israelense, ocupa apenas 0,4% do território árabe muçulmano que o cerca em todas as latitudes.
Aprendi muito nessas incursões e tive o momento mais sublime de toda a jornada quando nos aproximamos, pela primeira vez, de Jerusalém, num final de tarde que fazia brilhar o ouro da Mesquita de Al Aqsa, terceiro local mais sagrado do Islã. Com essa imagem pela proa, a caixa de som emitiu os acordes de Yerushalaim Shel Zahav, que, em português significa Jerusalém de Ouro, música que está até no repertório de Roberto Carlos.
É uma canção enfeitiçada, tocada mundo afora, que transformou nosso grupo num coral até que afinado, apesar das lágrimas de todos, os religiosos e os meros apaixonados por História.
A cada sábado em que vasculhávamos a minúscula terra prometida eu me lembrava, contudo, de um amigo (mais tarde respeitado dentista em São Paulo) que perdeu a porção inferior da perna num passeio igual àqueles, vítima de uma das minas que existem, ainda hoje, por várias partes do país. O episódio estava vivo na minha memória porque ocorrera um ano antes e com uma pessoa de meu conhecimento.

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