Perdido em Israel - Trecho 7
Como meu país fosse o Brasil, meus amigos fossem brasileiros, e o time de futebol pelo qual era apaixonado também disputava títulos no Brasil, Israel era apenas uma imagem vaga – nunca a sólida esperança daqueles que beijaram o chão do pátio de aviões do aeroporto de Lod. Aos poucos, fui me acostumando àquela rotina e cheguei a desfrutar mesmo de algum prazer ao retornar à sede, vendo a tarde cair, o frio voltar - e gratificado pela sensação de missão cumprida. Passava-me pela cabeça como eram lindas as terras que me preparei para ver secas e pedregosas. Por fim, o refeitório comunitário sempre tinha, para os retornados – catadores de laranja, coletores de batatas, pessoal dos currais e dos imensos galinheiros coletivos – algo para se comer avidamente depois de longa jornada laboriosa.
Lembro-me em especial das jarras de laranjada, que cheguei a provar e eram muito mais adstringentes do que as que que ingeri aqui no Brasil. Fato é que, após vinte dias de trabalho na plantação daquelas cobiçadas frutas nunca mais tive prazer em chupar ou beber uma laranja. Enjoei.
Só após o almoço tínhamos liberdade de sair, apanhar um ônibus e realizar incursões pelo país. Entretanto, apesar de o país ser pequeno, o transporte era precário e, quase sempre, gastávamos o resto do tempo no próprio kibutz.
Jamais nos dormitórios imundos e malcheirosos – porque cabia a seus ocupantes cuidar do asseio e todos estavam, sempre, cansados demais para limpar a imundície -, mas nos jardins e, sobretudo, na cantina do local. Era uma espécie de empório de tudo, com preços subsidiados, onde não circulava dinheiro apenas créditos e débitos contabilizados pelo kibutz,
Com o minguado soldo que recebíamos e algumas reservas que trouxemos do Brasil – comprávamos chocolates, biscoitos e, mais que tudo, cigarros sem filtro de uma marca cujo nome não me lembro, mas era azul clara e tinha um tosco avião ilustrando a embalagem.
Não sei quanto aos outros, mas foi na terra prometida que adquiri o prazer e o hábito de fumar que me acompanha até hoje. Jamais comprei bebidas alcoólicas, mas alguns de meus companheiros traziam infusões fortes (seria algum tipo de conhaque da pior procedência?)
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