Perdido em Israel - Trecho 8

Não se passaram quinze minutos, porém, antes que alguém me levasse ao diretor em exercício da comunidade. Ele devia ter uns trinta anos e, lembro-me, usava trajes militares.
Na verdade, essas comunidades, talvez a única experiência comunista que deu certo ao longo da história, porque revestida de um idealismo do qual pessoas normais não comungam são comandas por uma Assembleia Geral tipicamente soviética. O líder temporário eleito em alguma dessas reuniões levava o nome de Camarada Secretário Geral.
Acho que o tal chefe a quem fui encaminhado era algum diretor de produção do kibutz, também camarada, mas em outra função. De novo em castelhano e com o relato da doutora em mãos ele anunciou um trabalho substituto: o de lavador de pratos no refeitório do kibutz. Como a hora do almoço estivesse próxima, o chefe me encaminhou imediatamente para o local, uma espécie de centro social da comunidade.
Alguém de quem nada me lembro, deu-me um avental de lona, luvas plásticas que iam até os cotovelos e uma espécie de pia, também de lona, que seria, dali em diante, o meu posto de trabalho na comuna agrícola.
Com algumas orientações de outros colegas que exerciam a mesma função, não demorei para aprender o que ali se considerava um trabalho leve. Durante as duas ou três horas de meu turno, eu permanecia numa área pequena em que os trabalhadores saciados me entregavam seus pratos sujos e bandejas nem tanto. Os detritos mais densos eu devia jogar num latão de lixo comum aos lavadores, depois cabia-me passar algum tipo de detergente em pratos, copos e talheres; esfregá-los com uma bucha rústica (mas eficiente) e, por fim, depositá-los em prateleiras que ficavam atrás de nós.
Duas vezes, na hora de maior concentração de “clientes” rumo às suas atividades vespertinas, acabei cumprindo mal a função e quebrei os pratos.
Mais que a vergonha de ter falhado em minha atividade, impressionou-me o olhar crítico dos presentes, alguns dos quais me xingaram abertamente. Assim é uma comunidade pequena e socialista de um país em afirmação: os recursos são parcos e o desperdício tem o poder uma blasfêmia.

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