Perdido em Israel - Trecho 5
Tantos anos depois daquela minha primeira e única incursão à Israel, olho para o espelho e tento descobrir se há crueldade no meu olhar, para avaliar o tamanho da nódoa que me manchou.
Não choro por ela, tampouco dela me orgulho. Deve ter sido apenas por birra, mas nunca fui um bom candidato a sionista.
Trabalhei, pela primeira vez na vida (é bom frisar) como um camelo, animal de desertos, capaz de esforçar-se sempre além da conta. Minha estreia ocorreu num domingo, primeiro dia da semana laboral do país.
Todos os dias, depois de um café-da-manhã comunitário que ocorria literalmente no meio da noite inconclusa, levavam-nos e aos demais membros ou visitantes do kibutz, em tratores com carretas acopladas, às longínquas (vai ver que nem tanto, porque a memória é traiçoeira) plantações de laranja das terras arrendadas ou compradas daquela comunidade.
As próprias laranjas eram brutalmente grandes e cismavam em jactar-se de seu tamanho, na copa de laranjeiras também gigantescas, mesmo se comparadas às produzidas no Brasil. O incomum é que sugeriam ter luz própria e brilhavam antes mesmo do sol que só viria mais tarde e em pleno gélido inverno.
Seria por frutos como aqueles, que o mundo chamava a região de terra santa ou terra dos milagres? (um parêntese para informar que, nos meses de janeiro, as temperaturas ficam abaixo de zero em diversas áreas do país, mas esquentam rapidamente sob o sol, fato que além de tudo o mais, nos obrigava a chegar no trabalho carregados de casacos, gorros, luvas e cachecóis, que, por fim, terminavam empilhados aos pés das laranjeiras, antes das temperaturas vespertinas abaixarem de novo).
A cada um dos trabalhadores cabia uma longa fileira de árvores. A ordem era atacá-las uma a uma. Primeiro nos galhos mais próximos ao solo, o que parecia uma moleza, exceto se não tirássemos as frutas do jeito certo, decepadas com um pequeno talo do galho. Aprendi, assim, que laranjas redondas sem o tal apêndice eram inúteis para a exportação. Só serviam mesmo para o consumo local, pequeno e pouco rentável.
Não deve ser pequena, porque a tal terra prometida não me diz nada.
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