Perdido em Israel - Trecho 12
Pelo mesmo canal vinha o noticiário negativo, dando conta da morte de vários compatriotas em emboscadas nas fronteiras hostis.
Frequentemente, após dois ou três copos de vinho, os circunstantes levantavam-se para cantar o hino nacional de Israel e algumas tristes canções em iídiche, o estranho idioma que nasceu durante a diáspora – um mix de alemão, línguas eslavas, lembranças do antigo hebraico e outras influências, que anos mais tarde, produziria o único prêmio Nobel de Literatura para Isaac Bashevis Singer, cuja obra foi toda escrita nesse idioma peculiar.
Mesmo um humilde lavador de pratos como eu me contaminava pelas emoções que vazavam do refeitório. Afinal era gente muito feliz ou infeliz exprimindo o que pensava ou sonhava.
Na sexta-feira, depois dos serviços de Shabat , que anunciam a chegada do dia de descanso, sempre havia alguma atividade especial. Um pianista lituano que tocava amargas lembranças de sua terra natal, um general que explicava, com honestidade sem censura, os acertos e erros da política militar do país, e debates acalorados sobre temas nacionais.
Há um dito (não sei dizer se chega a ser um ditado) de que em qualquer mesa onde três judeus sentam-se para conversar, haverá sempre três opiniões diferentes. No refeitório que tinha, acoplado, um centro cultural, via-se esse comportamento o tempo todo.
Incrível como, às vezes é possível aprender muito mais lavando pratos do que numa aula de trigonometria.
Como nunca mais voltei à Israel, só posso lhes contar daqueles dias remotos, em que os kibutzim e os moshavin (comunidades semelhantes, com regras ligeiramente distintas) tinham relevância econômica. Com o passar do tempo e o declínio do idealismo, os jovens mudaram-se para cidades, estudaram e desenvolveram carreiras que praticavam em moldes mais que capitalistas.
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